O homem terminal
“Ah, que me metam entre cobertores
E não me façam mais nada…
Que a porta do meu quarto fique para sempre fechada,
Que não se abra mesmo para ti se tu lá fores. […]
Um quarto de hospital – higiênico, todo branco, moderno e tranquilo…”
(MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO)
Ao cabo de minha existência terrenal,
Pouco faltando para Ela me carregar,
Quem dera me fosse possível dormitar
No limpo, branco quarto de um hospital!
Que não me tragam qualquer livro ou jornal
Tampouco deixem vivalma me incomodar –
Quero tão só um bom vinho bebericar
Enquanto A pressinto deslizar, afinal.
Talvez até 3020 hão de entender
Todas estas minhas garatujas enfim,
E em bronze e em mármore haverão de me verter –
E se a querida Helena perguntar de mim,
Não a permitam (nem mesmo ela!) me ver.
Apenas digam-lhe: “Ele dormiu. É o fim.”