Voltas do tempo

Nos céus discorre a viajante lua,

E abaixo dela, no ermo enluarado,

Alhures um pastor tocando o gado

Vai, feito declinar da terra crua.

A lua se transmuta, abre e mingua:

E o homem consigo cisma, no chorado

Exílio, que outro tempo e renovado

Possa à pátria volver bendita e sua.

Mas cômputo dos reis, e de outras eras:

Não finda tudo o que é? Enfim não volta

Quanto partido tenha, ao seu descanso?

É tudo noite e prata nas esferas

Celestes — lá em cima, a lua solta:

Vai tudo e tudo vem ao seu balanço.

Manuel de Lira
Enviado por Manuel de Lira em 27/10/2024
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