A oitava praga

De paixão se referve no mormaço

O egipciano peito, e nas orgias

Bolha e pulsa que duram longos dias,

Pelos chãos dos casebres, pelo paço.

E edificando vai por largo espaço

Umas quão falsas, tanto mais sombrias

Imagens de sonhadas geometrias,

Feitiços de seu próprio amor, e braço.

Ingrato peito, e duro! Não se rendem

Nem esta hora as quimeras tuas, quando

O teu Deus Verdadeiro está chamando?

Mas tudo cala, e os ídolos se fendem:

E aos ares, antes lúcidos e imotos,

Enublam de tumulto os gafanhotos.

Manuel de Lira
Enviado por Manuel de Lira em 24/10/2024
Reeditado em 26/10/2024
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