Depois de quase um ano já passado,
nesse cerrado seco, tão tristonho,
no fim de duro estio, feito um sonho,
enflora o ipê, desnudo, desfolhado;
às vezes nos parece até bisonho
florir, enquanto tudo amortalhado
assiste o deslumbrante e raro fado:
seu viço passageiro, mas risonho;
efêmeras, etéreas, delicadas,
dançando pelos ares, quais falenas,
as flores, às centenas, vão ao chão;
encantadoras, ímpares floradas,
que passam, feito as brisas, sempre amenas,
como se fossem sonhos, ilusão.
Edir Pina de Barros