A INGRATIDÃO

A ingratidão, meu Deus, que coisa dura,

A ingratidão, meu Deus, que dor sem cura,

Desdenha o amor, em sombra pura.

A ingratidão, meu Deus, que coisa escura.

No mundo vasto, a ingratidão perdura,

Fazer o bem, meu Deus, que desventura,

Agradecer tornou-se uma aventura,

A ingratidão, meu Deus, descompostura.

Homens ingratos, comem o teu pão,

Homens ingratos, cospem no prato,

Homens ingratos, negam a razão.

E quando um pobre pede, ato ingrato,

Negam-lhe o pão, gesto em contramão,

A ingratidão, meu Deus, ato insensato.

— Antonio Costta