*TRILHA ABSC 11 - SONETOS QUE CONTENHAM AS PALAVRAS "SINCERO/OS/A/AS" E "INTENSO/OS/A/AS"*

*DEVANEIOS DA NOITE*

Descansa no horizonte a sonolenta

Tarde, à expansão da treva pela esfera...

Logo, o apogeu da noite prepondera

E a inspiração na minha pena aumenta.

Um véu dos astros rútilos sustenta

O encanto sideral que, então, prospera

Ao responder a evocação sincera

De minha voz mais íntima e sedenta.

Vagante, nesta abóbada infinita,

A luz da minha essência tão finita,

Intensa, vai nos fluidos noturnais...

Numa volúpia, a ideia do universo

Formata-se no meu humano verso

E dorme em devaneios imortais!

Ricardo Camacho

*ANIQUILADO*

Fazer soneto, agora, é quase ofensa,

Mesmo que seja por motivo nobre,

Porque minha alma, numa dor intensa,

De névoa escura e fria se recobre.

Por hora, minha lavra está suspensa,

Silente, por total, meu verso pobre!

Caminho, triste, em tempestade densa;

Talvez, após a chuva, nada sobre...

No vazio que sinto, apenas quero,

Em breve, descobrir gentil saída,

E voltar novamente à estaca zero!

Bem pouca coisa aguardo desta vida

E, concluindo, para ser sincero,

Somente a Morte me dará guarida.

Fernando Antônio Belino

*MOINHOS*

Depois de certa idade, percebemos

Que atravessamos rotas irreais,

E fomos desbravando um mar sem remos,

Seguindo falsos nortes pessoais.

O tempo passa. Então, envelhecemos,

E os nossos sonhos perdem ideais.

Queremos encontrar no olhar que temos

O intenso humor de quem nem somos mais.

Demora a acontecer, mas nos alcança:

Partidos mil escudos, gasta a lança,

Caímos pobres, fracos e sozinhos.

Travamos as batalhas mais sinceras,

Lutamos com gigantes, contra feras

Que nunca foram monstros, só moinhos...

Guilherme de Freitas

*CREPÚSCULO NA PAZ*

Na minha costumeira inquietude

Divago vislumbrando o céu, no ocaso,

Perdendo a luz solar, não por acaso,

Seu brilho intenso, sua magnitude.

Antes que a noite chegue, e tudo mude,

Impondo sua sombra em meu parnaso...

Sincero! Bons augúrios extravaso,

Pois busco no devir a plenitude.

Em outros arrebóis, assaz distantes,

Os homens, como sempre intolerantes,

Trocam civilidade pela guerra.

Esquecem que os encantos desta vida

Estão em nossa paz, robustecida,

Que nos permite apreciar a Terra.

José Rodrigues Filho

*TRAINDO A MIM MESMO*

Herdei muitos costumes de meus pais;

"ser verdadeiro, sempre verdadeiro"

esteve entre os preceitos principais

que eu cultivei durante o tempo inteiro.

Entretanto, o destino alcoviteiro

armou suas ciladas desleais

e eu me senti refém e prisioneiro

nas garras de emoções tão passionais.

Ao manter um amor às escondidas,

vou traindo a Verdade que venero

por sensações profanas e proibidas.

Ao ter que disfarçar o amor imenso,

quem sempre teve fama de sincero

oculta o sentimento mais intenso.

Arlindo Tadeu Hagen

*VARAL DE LEMBRANÇAS*

Minhas lembranças, postas no varal,

tremulam calorosas sob o sol…

enquanto alvejam, vai-se o natural

e intenso mofo (a luz é bom formol!)

Penduro o meu primeiro recital

e aplausos pela valsa em SI bemol;

penduro as aventuras de quintal

e o canto encantador do rouxinol.

Mas, sendo bem sincera, no baú

deixei meus medos: sapo cururu,

gigantes e trovões na escuridão…

Estendo, no varal, só alegrias…

as perdas e tristezas mais sombrias

joguei no inconsciente, meu porão!

Elvira Drummond

*LIMITES DA DIGNIDADE*

Intenso amor… nascido um doce anseio,

naquele ser com alma de poeta

que, agora, mergulhado em devaneio,

sedento busca a luta… a mais concreta.

Dispõe do amor sincero e se projeta:

– a audaz paixão, um ápice no enleio…

Transpõe barreiras, quer cumprir a meta

e as regras da razão despreza, alheio.

Prossegue e, incauto, nunca desespera,

prescreve a própria lei, mas exagera

no seu repúdio a normas… ou palpites.

O coração e a mente, amargurados,

do amor discordam, já conscientizados:

– A dignidade existe e impõe limites!…

Lucília A. T. Decarli

*SINAIS*

Do teu olhar, distante e indiferente,

ainda guardo aquele resplendor

que tanto me fazia o sonhador

disperso em nuvens, pleno e sorridente.

As juras que fizeste, de repente,

perderam-se no fel do desamor

e meu sincero preito à doce flor

calou-se, desprezado tristemente...

Contigo extravasei ternura e afeto

em cada toque, em cada beijo intenso,

sem perceber os pérfidos sinais.

De calidez, querida, fui repleto

mas logo desmorono quando penso

que foi apenas febre, nada mais...

Jerson Brito