ROSA 405 e 406 LEITE DERRAMADO

ROSA 405

Seus sonhos acabaram atrás de uma construção.

Ela só queria amor para fugir da solidão.

Pais, amigos, igreja, escola e um lar.

Certas coisas na vida ninguém pode julgar.

Tantos passaram por ela naquela avenida.

Ninguém viu seu choro, vida corrida.

Ela pedia socorro, demônio e ansiedade.

Seus olhos foram gritos de luzes na cidade.

Juventude que não trabalha, não pesca o pão.

Se rebelam contra os pais, ecos de ingratidão.

Não capinam um quintal, só celular e televisão.

Já nasceram inválidos, doença do século: depressão.

Querem o que os pais não podem comprar.

Fazem cara feia quando a louça tem que lavar.

ROSA 406

Assim passam o dia amuados.

Querem atenção, garotas e garotos mimados.

Todos sorriem quando é para bolinar

E logo se fecham na preguiça de sonhar.

Dormem tarde nas redes sociais.

Só levantam para comer, animais.

Bolsa família para estudar.

Não sabem ler, imagina interpretar.

Lendo o futuro, gigolô de mãe e pai.

Quem é cego não sabe onde vai.

Aos vinte e um anos, saem da proteção.

Perdidos em purpurinas e ilusão.

Hoje não se sabe o que é amar.

Amor é empurrar o filhote para voar.