Ofélia
(À Sra. Stephanie Armelin)
Doente, a olhos vistos ela emurchecia.
O rosto pálido, o corpo emaciado
Pouco tinham dos encantos do passado;
Por um fio, a sanidade lhe pendia.
Às vezes, num fiapo de voz, repetia
Lembrança dum longínquo dia dourado –
Versos com os quais lhe havia conquistado
E todas as promessas que neles fazia.
Eu, tal qual ela (quiçá ainda mais) doente,
A delirar na morte-em-vida mais a amava,
Da boca sorvendo-lhe o bafo pungente –
E a cada profano beijo que lhe roubava
Ébrio, voluptuoso, cruelmente
O coração em gozos se incendiava…