CASCA GROSSA

 

Longe da vida, ao sol e à chuva, no quintal,

mora à beira de um poço a velha tartaruga.

Não raro, espia o azul, quando é tempo estival,

e faz, de junto ao poço, uma pequena fuga.

 

Chata, vai amassando o espesso capinzal;

feia, não tem na cara uma fenda ou uma ruga;

e é uma telha ambulante, encouraçada e oval

que a nojenta epiderme ao sol ardente enxuga.

 

Contudo, existe aí, dentro dessa incorreta

forma, dessa carcassa encarquilhada e fria

uma alma boa, uma alma humilde de poeta.

 

 

Mora dentro de mim algo desse quelônio:

negou-me a natureza encantos; todavia,

trago em mim a alma ingênua e pura de um campônio.

 

(Belo Horizonte, 1944. Um soneto alexandrinho fascinante de um poeta, com alma simples quelônio, a que temos um pouco, ou devemos ter na simplicidade campesina.)

Cônego Bueno de Sequeira
Enviado por ROGER BUENO em 08/09/2024
Reeditado em 08/09/2024
Código do texto: T8147254
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