Atividade ABRASSO:
Soneto sáfico, heroico,
alexandrino ou dodecassílabo.
Rimas preferencialmente ricas.
Tema: Saudade
DORES DA SAUDADE
Ah, saudade, que bate no meu peito,
pois tudo que passou não volta mais,
porém ficou guardado nos anais
das lembranças, nas quais eu me deleito.
Então, sentimental, tiro proveito
desse meu saudosismo, sem jamais
negá-las, no presente, como tais,
pois inda assim me deixam satisfeito.
“Recordar é viver!” — o dito diz!
E, dessa forma, quedo-me feliz
ao motivar a minha inspiração.
E se a saudade dói, estou imune
sem deixá-la, portanto, que importune
o prazer que alimenta o coração!
José Walter Pires
SAUDADES VÃS
Que desejais, brutais e vãs saudades,
com que artifício ainda me iludis?
Perdi os meus caminhos de rubis
e os sonhos antes vívidos e jades.
O tempo delegou-vos os ardis
que me roubaram o ouro das idades.
Anseiam, minhas lágrimas, que vades
e que leveis o agror do instante gris.
Se o cântico de outrora emudeceu,
se a morte fez noturno o riso meu,
que desejais de mim, saudades vãs?
Sois a infinita dor que me consome,
se nada posso contra a vossa fome,
saudades, sois as eivas das manhãs!
Geisa Alves
SAUDADE
Saudade chega agora, em dor sem cura:
perdi meu sonho, nada tem magia;
a face triste chora e água impura
desce salgada e disto eu já sabia.
Não mais planejo ter a ação futura...
Na mocidade, ria todo dia;
trabalhei muito, tinha a vida dura,
no lar bem pobre, muita paz havia.
Quanta saudade trouxe de outras terras,
compondo versos, sons que posso ouvir,
voando milhas sobre o mar e serras.
Sofri, caí, chorei, venci meu mundo,
disfarço o pranto e mostro o meu sorrir:
agora sei brindar qualquer segundo.
Sílvia Araújo Motta
SULCOS DA SAUDADE
Olha a garoa fina (quase neve)
que faz estrias dúbias na janela;
pensa na sensação, enquanto escreve,
é nebuloso assim viver sem ela.
O frio, sabe, vai embora... em breve;
mas não a atroz saudade que o martela.
Suplica que, ao partir, o inverno a leve;
o vento ri, a dor mais se encastela.
Suporta, a muito custo, o fero trauma.
As lágrimas lhe sulcam cútis e alma,
à moda dos forcados no jardim.
O amanhã (como os sulcos) vê incerto...
fitando o céu, de nuvens encoberto,
indaga: "Deus, por que a levou de mim?!"
José Erato
SE A SAUDADE SURGIR
Se a saudade surgir à luz do dia,
abrirei as janelas, pensativo,
olharei o horizonte, que é tão vivo,
que murmura e que quase acaricia.
Se a saudade surgir na tarde fria,
o meu gesto será indagativo:
a razão, o propósito, o motivo
de pensar, de repente, em poesia.
Se a saudade surgir na noite morta,
abrirei devagar a minha porta,
vendo a rua em silêncio costumaz.
Sentirei, despontando a madrugada,
a presença ao meu lado recostada.
E algum dia, talvez esteja em paz.
Paulo Maurício G. Silva
SAUDADES DE MINHA INFÂNCIA
Minha saudade, bela e grandiosa,
por que me vem, assim, tão... tão antiga,
dos tempos de ouro, a fase mais amiga,
de uma áurea infância, plena e esplendorosa?
E vem a mim, vestindo cor de rosa,
exalando perfumes em cantiga,
como se fosse a flor que mais me instiga
a caminhar na senda perfumosa.
Essa saudade imensa, magistral,
nasceu na bela e heráldica Sobral,
e ainda agora sinto tal fragrância,
a ponto da saudade, com seu jeito,
pulsar, intermitente, no meu peito...
Vivo a idade outonal, cheia de infância!
J. Udine
SAUDADE: PARA MIM, SEMPRE BEM-VINDA
Ou de dia ou de noite, é sempre assim:
uma ocorrência de outra não destoa;
todas as vezes que se aloja em mim
a saudade me traz lembrança boa.
Saudade, igual ao canto do vim-vim,
nunca me deixa triste ou me magoa;
senti-la como eu sinto (infiro, enfim),
seria bom para qualquer pessoa.
É que esse sentimento singular
já de praxe, me invade de repente,
sem que eu disso consiga reclamar,
pois me faz reviver, extasiado,
em lembranças trazidas ao presente,
momentos tão felizes do passado.
Kleber Lago
QUANDO A SAUDADE APERTA
O mundo aqui parou, perdeu o encanto,
ficou triste, eu diria, quase morto,
eu só ouço o silêncio em cada canto,
aqui na solidão deste meu horto.
O dia não me encanta, eu vivo em pranto,
como se me afastasse do meu porto,
e não sentisse mais esse acalanto
do seu convívio ameno, e do conforto
que só você me dá, e falta agora,
para que em mim desperte nova aurora.
Vou lhe dizer a causa, o meu porquê:
de vez em quando, a depressão me assalta,
digamos que eu estou sentindo falta,
que eu estou com saudade de você.
Raymundo Salles
SAUDADE
Enquanto o tempo flui e tudo passa,
a própria vida, em si, se esvai – é vento –
ela me traz de volta o lado bento
de tudo que eu amei com fé e graça.
Emerge da memória e vem, me abraça,
a eternizar o encanto de um momento,
esqueço qualquer mágoa e ainda tento
do diamante separar a jaça.
A misturar quimera e realidade
na mais perfeita forma de alquimia,
a musa vem e a minha verve invade.
E chega sem detença, à revelia,
despida de recatos e, à vontade,
aninha-se em meus versos, me extasia.
Edir Pina de Barros
TUA FOTO
No fundo da gaveta, eis um achado:
o teu sorriso franco, numa foto,
lembrando um devaneio, então remoto,
cativo em um retrato amarelado.
Saudade, ausência, ecos do passado,
o luto asfixiado, atroz, imoto...
ressurgem, e somente agora eu noto
o rebrotar do afeto sufocado.
Rasguei a foto. E vivo a incoerência,
no afã de recordar o paraíso
trazido pela súbita ocorrência.
Rasgar a foto, sim, foi mau juízo,
pois redobrou a minha penitência
ao não poder rever o teu sorriso...
Paulo Cezar Tórtora
MUNDO DE INCERTEZA
Relembro, com saudade, aquele dia,
durante a animação de São João,
a luz do teu olhar que me aquecia
e me soprava o ardor ao coração.
Naquele instante em que o amor surgia,
senti-me levitar, sair do chão,
seguindo por um mundo de magia
a bordo de uma nuvem de algodão.
Porém, depois do sonho, o desencanto
matou o nosso amor, deixou-me em pranto,
imersa na saudade e na tristeza!...
Não mais aceitarei um beijo teu,
liberto-me dos braços de Morfeu
e desço desse mundo de incerteza!
Aila Brito
LUZES DO PASSADO
As luzes do passado brilham tanto
na lembrança de tempos tão felizes
que nos deixaram marcas, cicatrizes
a doer de saudade em doce pranto.
Há também os momentos em espanto
nas perdas parentais, nossas raízes
arrebatadas em instantes grises
da leira do viver – que desencanto!
Cada ausência nos mata dia a dia
e nos sepulta em chão de nostalgia
na angústia do presente a involuir.
E assim vamos vivendo de saudade
neste vazio atroz que nos invade
pela certeza incerta do porvir.
Paulino Lima
TEMPUS FUGIT
Um acontecimento passageiro...
Pelas memórias minhas me recordo
de repentinamente estar a bordo
de minha nau igual a um estrangeiro.
Talvez um sonho... ou último ou primeiro!
Ouço um distante cântico em que o abordo...
mas dos meus pensamentos não acordo;
torno-me, pois, em mero passageiro.
Lembro-me do passado em meu presente
enquanto me preparo ao meu futuro,
quer esteja eu ciente, ou insciente.
Não sinto nostalgia nem saudade
de esquecidas lembranças. Tempo obscuro:
esclarece-me e rouba-me a verdade...
Bruno Fagundes Valine
SAUDADE
Relembro a minha infância com saudade,
as minhas primaveras tinham cor,
no meu sorriso havia intensidade
do alvorecer até o sol se por.
Relembro e neste instante a paz me invade...
Queria tudo em verso, enfim, compor
para exaltar o amor e a alacridade,
pois minha infância não me trouxe a dor.
Bem cedo impressionou-me a poesia,
caminhar para escola já queria,
com pés descalços entre os milharais.
Embora o ser silente não revele,
o sol ainda queima sobre a pele,
a vida segue em meio a muitos ais!
Marlene Reis
NOSTALGIA
Vejo, no espelho, o meu olhar tristonho
que não esconde a dor da nostalgia;
distante está a fase luzidia,
mas presente nos versos que componho.
Dia de céu azul é fantasia,
noite sem solidão, nem mesmo em sonho...
nesse martírio, não me recomponho,
pois só me agrada o tempo em que eu sorria!
Saudade não se toca, não se alcança,
jamais terei de volta a juventude,
esse desejo agora não me ilude.
Saudade é reviver sem esperança
de abraçar a alegria já vivida,
é sonhar acordado nesta vida!
Janete Sales