Um brinde
Um brinde a minha felicidade solitária,
Nesta mesa posta, vejo posto um só lugar,
Como a cova aberta, rasa, surda e ordinária,
Onde eu sou o verme obstinado a degustar.
Sobre ela o cálice de vinho tinto sem gosto,
Traz à memória lembranças de um prato tosco,
À sombra da lápide fria, todo meu desgosto,
Matiz fúnebre como a taça de vidro fosco.
Triste brinde ao desprezo da amarga solidão,
Sobre a névoa da cova fúnebre da verdade,
Onde uma penumbra anuncia a escuridão.
Sobre a espessa areia final de fina ansiedade,
E que toda luz se apague e toda espera finde,
À mesa posta só me resta um último brinde.