Suplício de um Poeta
Por que te escondes, minha Etérea Musa?
Qual crime meu te tem, ora, espantado?
Vês, no meu rosto, um rosto de Medusa
E, no meu texto, um uso desusado?
Eu já não sou poeta se o teu manto
De lira não me vem logo cobrir.
Oh, Deusa, tem piedade do meu pranto!
Me ajude! não me deixe sucumbir
A uma existência tola e sem virtude
– Simplória, feia, fraca, torpe e rude –
Qual levam estes que não são poetas!
Descende a mim, que grito cá do abismo:
Renova-me, inspirando o meu lirismo
Como o Espírito inspira os seus Profetas!