VIDA DE ESCRAVO

(Inspirado em SINHÁ, de Herculano de Alencar)

Digo que não vi, mas vi, sim senhor.

Fechei os olhos, mas ficou a imagem.

Quis me aproximar, mas faltou coragem,

Foi como um sol que quase me cegou.

Mas sinhá, que era traquinas, gostou.

Me chamou para sua traquinagem.

Vi o perigo, sumi na paisagem.

Ali o meu inferno começou.

Sinhá, que sempre tinha o que queria,

Me perseguiu, partir daquele dia,

Porque sentia-se menosprezada.

Matem-no no tronco a chicotadas!

Furem os olhos, pra não ver mais nada!

Era o que exigia, alucinada.

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Sinhá

Eu fui escravo, agora sou cantor!

Mas volto a ser escravo na canção!

E se eu vi sinhá e disse não,

Foi para mitigar a minha dor.

Sinhá era a senhora do senhor,

E se banhava nua a céu aberto.

Aconteceu um dia eu estar perto…

A roupa de sinhá no quarador…

Mas juro, meu senhor, que não a vi.

Só enxerguei a flor do sapoti,

Envolta num orvalho de espuma.

Só vi a flor, senhor, não vi sinhá!

A flor que desse dia para cá,

Embora eu não a veja, me perfuma.

Herculano Alencar

Jota Garcia
Enviado por Jota Garcia em 29/07/2024
Reeditado em 21/09/2024
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