VIDA DE ESCRAVO
(Inspirado em SINHÁ, de Herculano de Alencar)
Digo que não vi, mas vi, sim senhor.
Fechei os olhos, mas ficou a imagem.
Quis me aproximar, mas faltou coragem,
Foi como um sol que quase me cegou.
Mas sinhá, que era traquinas, gostou.
Me chamou para sua traquinagem.
Vi o perigo, sumi na paisagem.
Ali o meu inferno começou.
Sinhá, que sempre tinha o que queria,
Me perseguiu, partir daquele dia,
Porque sentia-se menosprezada.
Matem-no no tronco a chicotadas!
Furem os olhos, pra não ver mais nada!
Era o que exigia, alucinada.
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Sinhá
Eu fui escravo, agora sou cantor!
Mas volto a ser escravo na canção!
E se eu vi sinhá e disse não,
Foi para mitigar a minha dor.
Sinhá era a senhora do senhor,
E se banhava nua a céu aberto.
Aconteceu um dia eu estar perto…
A roupa de sinhá no quarador…
Mas juro, meu senhor, que não a vi.
Só enxerguei a flor do sapoti,
Envolta num orvalho de espuma.
Só vi a flor, senhor, não vi sinhá!
A flor que desse dia para cá,
Embora eu não a veja, me perfuma.
Herculano Alencar