NEVASCA

Neve que me embala como um berço divino,

Neve da minha dor, neve do meu destino!

[Augusto dos Anjos]

Aqui dentro de mim a branca neve

Se espalha lentamente por dolência

E pálida, plangente, bem de leve

Cai na alma numa pérfida cadência.

Castelos alvos faz e circunscreve

Com névoas na memória, confidências.

Instante doloroso, que tão breve

Desenha na paisagem essa ausência!

E num tremor voraz e liquefeito,

Cristais de gelo vagam sob a casca...

Um grito oculto salta deste peito,

Sacado lá do fundo da nevasca!

E vejo escorrer na alma contrafeito,

Meu sonho diluído na borrasca!

Alessa B
Enviado por Alessa B em 23/07/2024
Código do texto: T8113034
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