NEVASCA
Neve que me embala como um berço divino,
Neve da minha dor, neve do meu destino!
[Augusto dos Anjos]
Aqui dentro de mim a branca neve
Se espalha lentamente por dolência
E pálida, plangente, bem de leve
Cai na alma numa pérfida cadência.
Castelos alvos faz e circunscreve
Com névoas na memória, confidências.
Instante doloroso, que tão breve
Desenha na paisagem essa ausência!
E num tremor voraz e liquefeito,
Cristais de gelo vagam sob a casca...
Um grito oculto salta deste peito,
Sacado lá do fundo da nevasca!
E vejo escorrer na alma contrafeito,
Meu sonho diluído na borrasca!