YBLISS
YBLISS I (2008)
(Baseado em texto árabe tradicional).
Quando a gordura desvendar-me os ossos
e a pele se estender contra as costelas,
quando vir prontos os derradeiros fossos
para minhas carnes a fim de inteiras tê-las,
quando vir esgotados tantos poços
de que me abeberei; e antigas velas,
que enfunei, de amores nos destroços,
quedarem pandas, mortiças as estrelas,
quando tiver mastigado derradeira
a última esperança acalentada
e me sentir perfeitamente fútil,
só então eu saberei, por vez primeira,
para que foi minha vida planejada
e somada a tantas mais, em sonho inútil.
YBLISS II (06 jun 11)
Contudo, ao me criar a divindade,
algum propósito tinha para mim:
posso furtar-me a meu dever, assim,
ou aceitá-lo, em plena liberdade.
Quando Alá criou primeiro a humanidade,
segundo fala o Alcorão, seu rim
surgiu da argila, enquanto que o djinn
era feito de fogo e sem maldade.
Mas Alá criou também os Malaikate,
que costumamos como "Anjos" traduzir,
feitos de Noor, a Luz do ser divino.
Nenhum orgulho tais seres abate:
foram feitos tão só para servir
e como servos cumprem seu destino.
YBLISS III
Contudo, julgou Deus, insatisfeito,
que obediência, por maior o seu valor,
não era o mesmo que um real amor.
E então criou o homem imperfeito...
Feito de argila e barro, seu defeito
era uma nesga de mal em seu teor.
Pequena embora, limitava seu pendor
para à obediência sempre estar sujeito.
Assim Alá concedeu ao ser humano
o poder de obedecer, se fosse eleito,
ou de escolher o mal que estava em si.
Reside nisso o mais antigo arcano...
Como é difícil aceitar um tal preceito
e quantas vezes em mim mesmo me perdi!
YBLISS IV – 30 MAIO 2024
Adão a Deus amava totalmente
e o Paraíso lhe foi dado por jardim,
com o direito de nomear desde o jasmim
até o elefante, de forma permanente.
E assim, cada ser, humildemente,
se ajoelhou ante Adão e, outrossim,
seu nome recebia... Bom ou ruim,
ele aceitava tal escolha, reverente.
Mas quando Alá ordenou aos Malaikate
que se prostrassem também diante de Adão,
ardeu a cólera de Ybliss em seu peito:
"Nome já tenho, não preciso de um rebate
e sou feito de fogo em combustão;
eu não me ajoelharei, nem darei preito!..."
YBLISS V
“Eu fui criado para servir a Ti,
oh, grande Alá e sempre fui perfeito
em meu agir e sempre rendi preito
diante do Trono e me prostei aqui,
“mas Adão não é meu deus e traz em si,
desde o começo a falha de um defeito:
por que darei obediência ao imperfeito,
eu que ao Perfeito sempre obedeci?”
“De todos estes seres que eu criei,”
lhe respondeu Alá, “o meu amor
se projeta maior no ser humano,
“da criação eu o tornei o rei,
portanto escuta a minha voz e sem temor,
diante dele te prostres, sem engano.”
YBLISS VI
Mas Ybliss recusou e então Alá
o baniu do paraíso, mas o djinn
suplicou um adiamento, pois assim
lhe poderia provar, estando lá,
que Adão e sua prole, desde já,
não mereciam habitar esse jardim,
pois ele adotaria como fim
estimular o mal que nele está.
“Eu amo o homem,” disse Alá, “pois o criei
capaz de obedecer por puro amor,
sem ser forçado por sua própria natureza.”
“Oh, meu Senhor, então eu provarei
que um anjo, por maior o seu fervor,
desobedecer-te também pode, com certeza.”
YBLISS VII – 31 maio 2024
Então Alá, clemente e misericordioso,
concedeu a Ybliss seu pedido:
ele é apenas um djinn e não é tido
como o senhor do mal, mas é orgulhoso,
de despertar, com ódio poderoso,
no coração todo o mal que está escondido
em todo o ser que humano foi nascido:
é ainda um servidor, embora rancoroso.
Porque se o homem não conhecer o Mal,
não poderá escolher fazer o Bem
e seu amor por Deus não seria assim perfeito.
E foi por isso que Alá, deus imortal,
concedeu a esse djinn poder também
para tentar os homens ao mal-feito.
YBLISS VIII
Não criou Ybliss qualquer depravação,
apenas demonstrou a sua possibilidade,
na escolha entre o Bem e a maldade,
que já estava oculta no humano coração.
Porém Alá lhe obtemperou então
que não poderia poderia impedir a humanidade
de demonstrar sua parte de bondade,
porque os eleitos já o eram e assim serão,
porém aqueles que induzir à tentação
e abandonarem as leis de seu Senhor,
deverão assim partilhar do seu ardor,
que Ybliss é um fogo e no fogo encontrarão
o castigo por recusarem Seu amor ,
após ao barro insuflar respiração.
YBLISS IX
Ybliss pediu então que Alá lhe desse
o poder de partilhar do julgamento
final dos homens, no divinal portento,
quando o Senhor dos céus à Terra desce.
Assim Alá lhe concedeu permanecesse
a inspirar o Mal com pleno fingimento,
pois todo o Bem vem de Alá, o deus atento,
porém o Mal no próprio homem remanesce.
Destarte Ybliss se tonrou o tentador,
também lembrado pelo nome de Sheitan,
pelo amor de Alá transformado em divisor
entre os que foram porEle já escolhidos,
Seu puro amor demonstrando pelo Islam,
enquanto os outros pelo mal serão vencidos.
YBLISS X—1º junho 2024
E da Jihad o sentido verdadeiro
é desta luta que leva à perfeição:
combate o homem seu próprio coração,
em seu tempo final e derradeiro.
E na Surata Al-Kahif que redigiu o mensageiro,
o próprio Alá comenta essa ilusão:
é um paradigma da humana sensação,
que o Mal habita, primeiro e por inteiro.
Pois assim lança sua admoestação:
Sheitan se revoltou contra o Senhor,
quem o seguir supõe ter nele aliado,
mas é o inimigo da humana multidão:
péssima troca é a de quem olvida o amor
por esse ente que sempre teve a Alá odiado.
YBLISS XI
De nossas angústias, egoísmos e ambições,
de quanto orgulho habita os corações
da humanidade que no pecar perdura
e os bens da vida dia após dia procura,
perdida nesse mar de encantações,
dificilmente a se escapar das ilusões.
busca a riqueza que tão pouco dura
e tem nos ossos só a pele e a carne impura!
Ybliss em mim inspirou tanta miragem,
lançou-me atrás de tanto ideal desfeito,
até encontrar finalmente esta mssão,
que agora sigo, envolto na coragem
de minha Jihad interior, para perfeito,
mostrar os traços em mim da eterna Mão!
YBLISS XII
Talvez por isso bati em tantas portas,
que se fecharam de forma indiferente;
o planejado para mim é mais plangente,
nessa alquimia brilhante das retortas,
a decantar em mim quimeras mortas
e conservar na alma essa pungente
inspiração que me domina a mente
e que o destino me escreveu em linhas tortas;
e pouco importa que Seu Npme seja Brahma,
ou Zeus, quiçá Jesus, Moisés. De Alá
só fui criado para escolher o amor
e nestes versos de multifária chama,
Ybliss se prostra perante Jeová,
No ministério que lhe deu o Criador!
YBLISS XIII —2 junho 2024
Pois o conto de Job diz claramente,
no livro antigo, redigido por Moisés,
já incluído entre as Sumérias fés,
que Ybliss perante Deus veio obediente.
E quando ouviu o Criador onipotente
dele indagar aonde punha os pés,
então falou com orgulhosa tês:
“Venho de percorrer a Terra inteiramente.
“E faço aos homens demonstrarem o que são,
mas quando os tento dou-lhes apenas a ocasião
de revelarem sua verdadeira natureza
“e recolhidos nas cidades em que estão,
Teus mandamentos quebrarem com certeza,
sem se importarem com perfeita devoção.
YBLISS XIV
Contradizendo seu tétrico desígnio.
Jehovah sobre seu servo lhe indagou
o honesto Job, que sempre demonstrou,
em todas as coisas revelar-se digno
desse amor pelo perfeito signo
que o Deus eterno na vida lhe inspirou
e então Ybliss, rancoroso, declarou
ser bem capaz de demonstrá-lo indigno,
Que anteriormente Deus lhe havia proibido
de impedir os homens de praticar o Bem,
só os tentando a demonstrar o Mal,
que em sua própria natureza havia inserido;
e assim Jehovah lhe permitiu também
tentar a Job muito além do natural.
YBLISS XV
Nessa parábola do antigo entendimento
é revelado ser possível resistir,
por mais que o Mal nos venha a afligir,
mesmo que Deus lhe dê consentimento.
Job é atingido por um e outro portento,
mas em sua fé consegue persistir,
perdidos bens e filhos sem nunca desistir
desse louvor em pleno assentimento.
Muito se tem falado em provações,
quando Ybliss perfura os corações
com o maior teor da iniquidade
e contudo, como Job, sempre é possível
a Alá/Jehovah mostrar confiança irretorquível,
sem nos deixarmos corromper pela maldade.