TRILHA DE SONETOS CXXXVIII - DIÁLOGO COM "NOEL ROSA"
*ÚLTIMO DESEJO*
Música: Noel Rosa
Letra: Vadico
Nosso amor que eu não esqueço
E que teve o seu começo
Numa festa de São João
Morre hoje sem foguete
Sem retrato e sem bilhete
Sem luar, sem violão
Perto de você me calo
Tudo penso e nada falo
Tenho medo de chorar
Nunca mais quero o seu beijo
Mas meu último desejo
Você não pode negar
Se alguma pessoa amiga
Pedir que você lhe diga
Se você me quer ou não
Diga que você me adora
Que você lamenta e chora
A nossa separação
Às pessoas que eu detesto
Diga sempre que eu não presto
Que meu lar é o botequim
Que eu arruinei sua vida
Que eu não mereço a comida
Que você pagou pra mim
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*MUNDO DE INCERTEZA*
Relembro, com saudade, aquele dia,
durante a animação de São João...
a luz do teu olhar é que aquecia
e me soprava o ardor ao coração.
Naquele instante o nosso amor surgia...
Senti-me levitar, sair do chão,
viajando por um mundo de magia,
a bordo de uma nuvem de algodão.
Porém, depois do sonho, o desencanto
matou o nosso amor, deixou-me em pranto,
pintou os nossos dias de tristeza!...
Não mais aceitarei um beijo teu,
desperto-me dos braços de Morfeu
e desço desse mundo de incerteza!
Aila Brito
*O ÚLTIMO DESEJO*
Há muito, o nosso amor vem se acabando,
aquela brasa forte e incandescente
foi-se tornando cinzas lentamente,
deixando a minha vida sem comando.
Os sonhos, como pássaros em bando,
voaram para além do sol nascente,
meu coração agora nada sente,
um dia partirei, mas não sei quando.
Mas saiba que o meu último desejo
é que você simule aos bons amigos
que chora lamentosa o desenlace.
E peço-lhe também, no mesmo ensejo,
que diga aos meus piores inimigos
que nunca mais verá a minha face!
Luciano Dídimo
*SENSATEZ*
A dor de um sentimento inacabado
Precisa acontecer, infelizmente.
Somente assim, nas lutas do presente,
É que se põe um fim ao mal passado.
Paixões virão. A tórrida torrente
Costuma remexer qualquer estado,
Fazendo com que até o mais calado
Passe a compor o verso mais ardente.
É natural, enfim, a cada etapa,
A queixa que, de vez em quando, escapa
Na forma de tristeza dolorida...
Depois que apaga a chama, acaba a festa,
E todo ser sensato manifesta
Razão em nunca mais amar na vida.
Guilherme de Freitas
*ABSURDO DESEJO*
Meu último desejo não se aplica,
Pois foge à tradição do mês junino,
Voltar no São João, feliz menino...
Vontade que esta vida não explica.
Comer o milho assado ou a canjica...
Soltar foguetes, mesmo pequenino,
No São João festejo campesino
Em que as mulheres são a prenda rica.
Comigo o meu idilio foi frustrado...
Auguro que te afastes do passado
E escrevas nova história sobre mim...
Perante a quem eu gosto enaltecendo-me,
Contudo a quem detesto envilecendo-me
Quero a fogueira ardendo até o fim.
José Rodrigues Filho
*AQUELE SÃO JOÃO…*
Daquele São João bem festejado,
só cinzas… na lembrança e na fogueira…
A sorte que revela o namorado,
no talho de uma antiga bananeira,
acinzentou a tinta, li errado…
E a linha do destino, alvissareira,
desvirtuou o traço e pôs de lado
as cenas que sonhei a vida inteira!
O amor, por vezes, sina que assassina
o sonho azul da cor de turmalina,
veste o luar com luto da paixão…
Mas minha fé restaura a cor do céu,
quem sabe a sorte vem… descerra o véu
e mostra o eterno amor num São João!
Elvira Drummond
*OLHOS PÁLIDOS*
Relembro a calidez do abraço antigo
e vejo meu gemido inconsolado
atravessar a noite em que persigo
o sonho preso às trilhas do passado.
Aqueles bons momentos que contigo
passei ainda têm me atordoado
porque revivo quando aos versos digo
o quanto te queria e fui deixado...
Meus olhos, separados do sorriso
que tanto me trazia luz e afago,
perderam tristemente o resplendor.
A solidão tortura, mas preciso
abandonar quimeras, durmo e apago
teu rosto, tua voz, o teu amor...
Jerson Brito
*BOEMIA*
Por letras de cristais à sua rosa,
Sobressaltantes de brasileirismo,
Deixa transparecer o saudosismo
A voz do bom cantor Noel, o Rosa.
Os versos musicais num mel de prosa
Produzem doce sentimentalismo
Ao reunir a flor do romantismo
No solo da memória venturosa.
Talvez, na cachoeira do seu pranto,
Fingiu sorrir com rima e, junto, o canto
Redesenhou imagens eternais...
A música de essência brasileira
Encanta feito o brilho da roseira,
Conforta pelos versos imortais!
Ricardo Camacho