CANTO 25° ( SONETOS DOS DESEJOS)
1
Não há entre os mortais criatura
mais bela e graciosa, de talhe tão
esbelto, de perfume inebriante e
magnífica postura entre as demais.
Os deuses do Olimpo a desejam,
As deusas invejam-lhe o olhar,
Tal como a curva suave dos lábios,
E os cabelos por sobre os ombros.
O seu nome é um mistério que ninguém
jamais saberá, embora esteja diante dos
olhos de todos e nos lábios é pronunciado.
Sou o teu escravo, disso não há dúvidas,
Cada verso meu exalta tua majestade,
Cada poema é uma canção ao nosso amor.
2
Você não consegue enxergar o que
os meus olhos dizem, embora os
vejam e os contemplem, não consegues
distinguir os meus segredos ocultos.
No entanto, nós poetas temos o privilégio
de olhar pela janela de sua alma, sempre
aberta, de modo que vislumbramos todos
os teus maiores medos, desejos sombrios.
Não te assuste com o que estou dizendo,
Nós poetas somos educados e discretos,
Não divulgaremos o que nós descobrimos.
Às vezes, dizemos de uma maneira única,
Raramente quem lê entenderá a mensagem,
Portanto, deixe a janela sempre aberta.
3
Meu desejo é de sumir, desaparecer do
mapa sem deixar rastros, ir para qualquer
lugar o mais distante possível, onde
não haja uma alma viva para dialogar.
É um desejo extremo, eu sei, vai me
dizer que você nunca se sentiu assim
pelo menos uma vez na vida, eu entendo
a maluquice envolvida nesse contexto.
Compreenda... É um desejo legítimo de
um poeta melancólico, desqualificado e
sem a menor vontade de continuar.
Talvez... Eu disse talvez você me entenda
e com isso alcance a dimensão do
meu desespero, do chicote que me esfacela.
4
É a tua beleza derramada,
Beleza Olimpiana, uma deusa,
Entre os mortais não há igual,
Nem brilho semelhante ao teu.
Na formosura você foi esculpida,
Com delirante paixão desenhada,
Não há quem não se encante,
Cada curva, um pedaço de pecado.
As palavras deste singelo poeta,
Por mais belas que pareçam,
Não podem mensurar teu quilate.
Habitando em uma esfera diferente,
É inatingível aos simples mortais.
Resta-nos apenas o desejo enlouquecido.
5
Estava escuro, talvez início de noite,
Era apenas eu e ela no desconhecido,
Um lugar fora do tempo e espaço,
Olhos nos olhos, coração palpitante.
Havia um desejo insano nos olhares,
O meu revelava o pecado oculto,
Nos olhos dela, via-se o reflexo do meu,
Repentinamente, fez-se desejada escuridão.
Olho nos olhos, face a face,
O perfume suaves de flores,
O desejo tornou-se em beijos.
A dança ardente dos lábios,
No ápice de nosso ato de amor
despertei, era apenas um sonho.
6
O coração é uma casa assombrada, cheia
de desejos e pecados, todos se contorcendo
em um pequeno espaço de carne sangue e
monstros de solidão e puro desespero.
O meu coração que antes era o seu
habitat, hoje, já não sei mais no que se
transformou, existe um abismo enorme
aqui dentro cheio de vozes dos meus eus.
A vida é cheia de complexidades,
Mistérios que nos assaltam pela noite,
Rouba-nos a paz trazendo desespero.
O coração de um poeta melancólico é um
mistério que nem mesmo ele conseguirá
decifrar, não importa o quanto ele tente.
7
Não importa o quanto eu grite,
Ninguém vai me escutar,
Tem sido desta maneira desde
a minha tenra juventude.
Os dias se fazem de crueldade,
As noites são traiçoeiras,
Existe um vazio enorme em mim,
Jamais conseguirei te explicar.
Os meus desejos são confusos,
Infelizmente eu não tenho mais
esperanças de que algo mude em mim.
"É solitário andar por entre as gentes",
Como bem disse outro poeta do passado,
E faço minhas as suas sábias palavras.
8
Entenda meu amor, eu não sou como
os demais, não te enxergo pelo mesmo
prisma distorcido, você é belíssima e
disso não tenho a menor dúvida.
Entenda meu amor, o meu coração não
é semelhante aos demais, existe um
abismo enorme que me separa destes
que te seguem sem nenhuma nobreza.
Entenda meu amor, sou um poeta e
como tal, vejo muito além da janela
de uma alma, eu enxergo os corações.
Entenda meu amor, o meu sentimento
é como um rio de águas cristalinas,
Poucos compreendem o seu curso sinuoso.
9
Eu me perco no seu pensamento
em um desconexo distanciamento
onde o tempo não existe, não sou
mais aquele poeta que tanto amou.
Eu não me vejo ao seu lado,
Minha vida é apenas enfado,
Me tornei servo da solidão,
Um poeta sem alma e coração.
De onde surgem esses meus desejos?
Essa força descomunal ardendo no peito,
Me quebrantando, força essa colossal.
Vou me esconder de você em cada palavra
escrita, talvez seja meu triste destino
nessa terra, aedo sem face, cretino.
10
Eu sempre digo que este será
o derradeiro poema, sei que estou
mentindo, não haverá um término
nas palavras riscadas ao curso da pena.
Eu sei que os teus olhos não
se fazem presentes, isso traz
profunda tristeza, fere o seio
já tão maculado pelo tempo.
O dia está calmo agora, meu amor,
Embora aqui dentro do meu peito
uma terrível tempestade me assola.
Entenda que essa multidão de versos
resumem em um único desejo ardendo
continuamente, desejo não realizado.