La belle dame sans merci
(A Beatriz Uchôa)
Fascinam-me todos os portentos do Mal:
Amo sentir a arder por meu corpo doente
Os mil eflúvios da peçonha da Serpente,
A contorcer-me em dor – e num prazer mortal.
Amo a centelha soturna do punhal
Que o assassino enterra, sorrateiramente,
No coração duma vítima inocente,
Saciando em sangue sua sede fatal.
Amo o sardônico, demoníaco esgar
Do Arqui-Herege, arauto da Rebelião,
Seu brado pelo cosmo ainda a retumbar –
E amo o gelo eterno em teu coração,
No palor de tuas mãos, no brilho do olhar
D’Aquela que é de minha insônia a obsessão!