*TRILHA ABSC 9 - CIDADE DO INTERIOR*

CIDADEZINHA

Devagar a cidade acontecia,

nas janelas olhando devagar...

Tudo lento, mulheres a cantar,

pleno amor, ao nascer um novo dia.

Vilazinha qualquer, mas tão lugar!

(Com certeza, era tudo que eu queria!)

Laranjais entre casas, a alegria

De colher os sabores do pomar.

Ruazinha espiando, sonolenta,

Essa gente incomum, que se contenta

em seguir, calmamente, vida a fora,

devagar, relevando os dramas seus!

Uma bênção viver assim, meu Deus!

num não-tempo, sem fim, somente agora!

Fernando Antônio Belino

CIDADEZINHA DO INTERIOR

Sequer se vê no mapa o seu ingresso…

parece um vilarejo e não cidade.

Gente pacata e afeita à honestidade,

mas sem anseios próprios do progresso.

Das frutas sobrevive a sociedade

com poucos lucros, quase em retrocesso.

Dali se vão os jovens (sem regresso),

e a lentidão prossegue, na verdade.

Ao fim da tarde, o som da “Ave-Maria,”

lá na Matriz, despede-se do dia

e, nas janelas, povo atento à fé.

Carroças e compadres se visitam…

Compartilhando tudo em que acreditam,

comadres vão servindo um bom café…

Lucília A. T. Decarli

HUMILDE LUGAR

Diante do cenário prazenteiro,

Imerso no silêncio, à luz do dia,

Contemplo o micromundo brasileiro,

Volvido numa doce calmaria.

Na praça, um sorridente pipoqueiro...

E, logo, a criançada, na alegria,

Pula ao sentir o irresistível cheiro,

Rompendo o império da monotonia.

De vez em quando a brisa, sonolenta,

Passa no embalo da carroça lenta

No entardecer pacato do lugar...

A escuridão dos morros argilosos

Mostra o poente e os astros luminosos

Como atração no interior de um lar.

Ricardo Camacho

CIDADEZINHA DO SERTÃO

Mulheres andam entre as aroeiras,

Enquanto o dia segue sossegado...

Um homem, devagar, conduz o gado

Para o curral e fecha-lhe as porteiras.

Chegando a noite, acendem-se as fogueiras

E o prato principal é milho assado.

Pelos terreiros corre, lado a lado,

A criançada em suas brincadeiras...

Neste cenário rústico e tão belo

Não tenho as mordomias de um castelo,

Mas sigo por caminhos que são meus.

Nenhuma falta sinto da cidade,

Pois neste reino da simplicidade

Eu vivo a vida que pedi a Deus.

Gilliard Santos

LENTIDÃO

As árvores das casas com janelas

balançam numa eterna languidez…

O vento sopra em várias passarelas,

mas tempo nunca passa de uma vez:

arrasta folhas verdes e amarelas,

varrendo o que é certeza e o que é talvez.

A vida segue em linhas paralelas,

na lentidão, meu sonho se desfez…

Na tal cidadezinha — um lugarejo —

sem ter motivação, não há desejo…

eu vivo a inapetência, só fastio.

E passo o tempo a ver passar o tempo…

sem ter animação, sem passatempo,

a minha vida é cheia de vazio.

Elvira Drummond

VIDA NO INTERIOR

Já não há mais cadeiras nas calçadas

nas maiores cidades do país

mas podem ser às vezes encontradas

na parte onde a nação é mais feliz.

Deixa o progresso a sua cicatriz

ao tornar as pessoas separadas.

Porém no interior a diretriz

é manter sempre as almas irmanadas.

Os laços de amizade permanecem...

Quase todos, de fato, se conhecem.

A vida é mais pacata e mais profunda.

Pela questão somente financeira,

no entanto, muita gente de primeira

vai levando uma vida de segunda.

Arlindo Tadeu Hagen

VILAREJO

Na vila! Nem sequer coreto havia,

Seu clima se fazia modorrento,

Apenas, em lufadas, vinha o vento

Já no final da tarde, findo o dia.

A pasmaceira, agora em agonia,

É permutada pelo açodamento,

E o zurro, entrecortado, de um jumento

Alguma novidade prenuncia...

É noite, enluarada, e os habitantes

Ilhados nos confins, sem informantes,

De suas casas saem para olhar

A única boniteza que há no burgo,

Também a distinção que o demiurgo

Legou àquela gente do lugar.

José Rodrigues Filho

VIDA INTERIORANA

Entregue à inapetência do ponteiro

que marca seu compasso lentamente,

o tempo, generoso e complacente,

afaga o coração de um povo ordeiro.

A prosa na calçada, o sol dormente,

a brisa, a mata e o clima hospitaleiro

produzem novas linhas do roteiro

escrito na memória dessa gente.

Na rubra passarela preparada

desponta a noite calma e, na chegada,

promete mais brandura ao fim do dia.

Quando a simplicidade prepondera,

nenhum prazer suplanta o da quimera

que a vida interiorana propicia...

Jerson Brito

VIDA INTERIORANA

Entregue à inapetência do ponteiro

que marca seu compasso lentamente,

o tempo, generoso e complacente,

afaga o coração de um povo ordeiro.

A prosa na calçada, o sol dormente,

a brisa, a mata e o clima hospitaleiro

produzem novas linhas do roteiro

escrito na memória dessa gente.

Na rubra passarela preparada

desponta a noite calma e, na chegada,

promete mais brandura ao fim do dia.

Quando a simplicidade prepondera,

nenhum prazer suplanta o da quimera

que a vida interiorana propicia...

Jerson Brito