Me desculpe, Camões!
Um soneto perfeito eu não consigo,
Pois que me foi negado esse talento.
Mas, apesar de tudo, ainda tento
O milagre do pão, forjar no trigo .
As vezes ponho um verso de castigo.
As vezes uma sílaba a mais.
As vezes troco as tônicas vogais.
As vezes erro a crase no artigo.
As vezes penso cá, com meus botões,
Por que sinto vergonha de Camões,
Quando leio um soneto que eu fiz?
Eu penso ter chegado à conclusão,
Que a pena caleja a minha mão,
Só pra fazer de mim um apendriz.