ENLEVO

ENLEVO

Já nem t’escuto os lances de ventura

Ou as vãs reviravoltas que me narras.

Os teus lábios se movem sem amarras,

Mas dos sons não me vêm senão candura.

Tão-só cuido em olhar-te a formosura,

Ao passo que em meu peito mil fanfarras

Desfilam, sumptuosas, se me agarras

Não tanto por argúcia, sim ternura.

Atento antes aos olhos do que à boca,

Eu sigo sem saber se o que me toca

É o teu argumento ou o teu mamilo.

Já a alça displicente te cai ao ombro…

Ao qu’eu, boquiaberto, cá me assombro

De quanto fantasia o olhar tranquilo.

Betim - 19 06 2024