A paixão sempre vem dum devaneio

E, quando chega, embota o raciocínio!

Para estancar a dor deste fascínio,

Já se valeu de tudo e todo meio!

 

Mas, mesmo contida, fica o receio

Dela, outra vez, demandar seu domínio!

O medo insano deste predomínio

Dentro d’alma é terrivelmente feio!

 

Por isso, tal sentimento é mistério

Que cabe inquirir quem é o culpado

Por esta dor imoral, insensata:

 

A Musa, que atiça este amor deletério?

Ou o vate, que tolo e obcecado,

Revive sempre a ilusão que o maltrata?

 

 

 

                                                                                                                               Nelson de Medeiros

 

Nelson de Medeiros
Enviado por Nelson de Medeiros em 18/06/2024
Reeditado em 18/06/2024
Código do texto: T8088312
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