A paixão sempre vem dum devaneio
E, quando chega, embota o raciocínio!
Para estancar a dor deste fascínio,
Já se valeu de tudo e todo meio!
Mas, mesmo contida, fica o receio
Dela, outra vez, demandar seu domínio!
O medo insano deste predomínio
Dentro d’alma é terrivelmente feio!
Por isso, tal sentimento é mistério
Que cabe inquirir quem é o culpado
Por esta dor imoral, insensata:
A Musa, que atiça este amor deletério?
Ou o vate, que tolo e obcecado,
Revive sempre a ilusão que o maltrata?
Nelson de Medeiros