Soneto do sobrinho atônito
No templo, bem guardada a sacra âmbula...
A tia o diz, com o fervor do exótico,
Não, não para impingir saber despótico,
Mas por apreciar a fala esdrúxula...
Dizendo da âmbula, lembra a espórtula,
A ser transmitida sem ar pernóstico,
Exaltando, pois, o gesto semiótico
Do bom doador, que se recolhe em ínsula...
Sim, o corpo – da alma hermético ergástulo –
Criou-se para a vida em belo pórtico,
Mas carrega em si seu fabuloso êmulo...
Qual seja, ser o grande receptáculo
Daquilo que há de ruim, de estrambótico –
E ouço, e fico néscio, e triste, e trêmulo...