TRILHA DE SONETOS CXXXVII - DIÁLOGO COM A CANÇÃO "CHÃO DE GIZ"
*CHÃO DE GIZ*
Intérprete: Zé Ramalho
Eu desço dessa solidão
Espalho coisas sobre um chão de giz
Há meros devaneios tolos a me torturar
Fotografias recortadas
Em jornais de folhas, amiúde
Eu vou te jogar
Num pano de guardar confetes
Eu vou te jogar
Num pano de guardar confetes
Disparo balas de canhão
É inútil, pois existe um grão-vizir
Há tantas violetas velhas sem um colibri
Queria usar, quem sabe
Uma camisa de força ou de vênus
Mas não vou gozar de nós
Apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar
Gastando assim o meu batom
Agora pego um caminhão
Na lona, vou a nocaute outra vez
Pra sempre fui acorrentado no seu calcanhar
Meus 20 anos de boy, that's over, baby
Freud explica
Não vou me sujar
Fumando apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar
Gastando assim o meu batom
Quanto ao pano dos confetes
Já passou meu carnaval
E isso explica porque o sexo
É assunto popular
No mais, estou indo embora
No mais, estou indo embora
No mais, estou indo embora
No mais...
Compositor: Jose Ramalho Neto
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*RETOQUE DA SOLIDÃO*
Há tantos sonhos, cálidos, em mim,
porém à sombra de uma cicatriz...
triste memória de um amor sem-fim,
hoje espalhado sobre um chão de giz.
Há tantos devaneios, outrossim,
perdidos pela noite... por um triz
reflorescia num vernal jardim,
mas a utopia não se fez raiz.
Há tantas folhas mortas pelo chão
e colibris sem flores, a sugar
o néctar, no amargor da solidão!
Não vou gastar o tempo em longa espera,
saio do exílio para restaurar,
no novo amor, a solidão austera.
Aila Brito
*AMIÚDE*
Num solo seco deita o meu diário
Com versos de palavras apagadas
Que nutrem sonhos sob o lampadário
Da inspiradora noite em badaladas!
Num chão, celebro todo o aniversário,
Reacendendo em giz as gris calçadas,
Numa ilusão que cobre o meu fadário
Por décadas e décadas contadas!
Na madrugada cintilante e preta,
Converso sempre com algum planeta
E, com alguma estrela, dialogo...
Mas durmo em meio à viva dispersão,
Nas invisíveis nuvens da canção,
Enquanto mais luminescência rogo.
Ricardo Camacho
*SÓ LEMBRANÇAS!*
Relembro as nossas juras, nossos sonhos
de conquistar a vida, lado a lado,
dos planos que fizemos, do almejado
sucesso e dos desejos mais risonhos.
Agora, os dias vagos, são tristonhos,
(feito um poema frio, inacabado),
perdidos nas lembranças de um passado,
tornando os dias longos e enfadonhos.
Espalho, pelo chão, fotografias,
as lágrimas escorrem, amiúde,
saudosas do frescor das alegrias
que partilhamos, juntos, com ardor...
mas, na real, faltou-nos atitude
para cuidar do nosso lindo amor.
Aila Brito
*SICÁRIOS*
O mesmo amor que agora nos tortura,
E que nos prende à teia da ironia,
Já foi ingênuo e leve. Foi, um dia,
Certeza da amizade mais segura.
Hoje percebo toques de loucura
Naquilo que fizemos por mania
De achar que nosso amor resistiria
A tudo, sempre, sem qualquer fratura.
Engano meu, bem vi! Engano nosso!
Sicários de um esquálido destroço
Condicionado ao mal de dois punhais...
Mas não erramos. Por favor, entenda...
Fizemos bem buscar em outra senda
Alguém que nos mereça um pouco mais.
Guilherme de Freitas
*VERGEL DAS ILUSÕES*
As borboletas pairam, adejando,
Sobre um jardim de giz, fantasioso,
Momento em que o excitante, o precioso,
As pétalas florais estão eivando.
As cores os matizes vão mudando
Em um compasso atípico, ardiloso,
À vida dando um toque grandioso
E a mágica impressão de estar voando.
Imagens tórridas, entorpecentes,
Sucedem-se de formas envolventes
Catalisando sonhos irreais...
O pó de giz, não sendo o do colégio,
Faz do panapaná um sacrilégio
Tornando obtusos puros ideais.
José Rodrigues Filho
*POEIRA…*
Apenas pó… poeira do passado…
restou somente a foto desbotada
que o tempo transformou em quase nada,
tragando tudo, em torno do traslado.
Tivemos nosso sonho maculado…
varreu o vento, em volta da calçada,
em que calçamos juras, na virada
das noites com seu tato carimbado.
Se o sopro do destino traz agora
as sombras do que nós jogamos fora,
parece, simplesmente, assombração!
O ouvido não aceita a melodia
que foi harmoniosa… (quem diria?),
mas, hoje, descompassa o coração.
Elvira Drummond
*SOLITÁRIO SONHADOR*
Enquanto o sentimento consumia
completamente a minha sensatez,
entregue à sempre altiva calidez,
alimentei-me em falsa fantasia.
Ao perceber o quanto me feria
aquele abraço impuro, a lucidez
gritou desesperada e se desfez,
aos poucos, uma história tão vazia.
Marcado pelas dores do fracasso
daquele amor apenas verdadeiro
no sonho que comigo não viveste,
acalmo o coração em descompasso
e faço deste beijo derradeiro
um preito ao resplendor que devolveste.
Jerson Brito
*CHÃO DE GIZ*
No alto da minha escura solidão,
vejo pegadas brancas como giz
que marcam as escolhas que eu já fiz
e seguem nos caminhos que virão.
Disparo, em devaneios, meu canhão,
as coisas não saíram como eu quis,
procuro, em meio às flores, colibris.
As fotos, os confetes... tudo em vão!
Com toda a minha carga, vou à luta,
ainda acorrentado na impoluta
paixão que, como fogo, me devora.
Meu próprio sentimento não me escuta,
sem beijos, sem batom, a qualquer hora,
antes de enlouquecer, eu vou embora!
Luciano Dídimo