Atividade ABRASSO com tema livre:
um soneto sáfico, heroico ou alexandrino.
Rimas preferencialmente ricas.
“VELHOS TEMPOS... BELOS DIAS”
A vida emancipou-nos muito cedo
e o mundo, trégua alguma oferecia,
sem muito afeto por qualquer brinquedo,
sempre despertos ao raiar do dia.
Aos camponeses nunca foi segredo:
quanto mais filhos, mais se produzia.
Éramos dez num mundo estranho e ledo,
pouco se tinha e muito se fazia...
E hoje, contando a história dos meus pais,
àqueles que nem prole querem mais,
parece ser o sonho de um sandeu!...
É impensável termos tantos filhos,
formá-los, sem deixar sair dos trilhos...
e ver que nenhum deles se perdeu!...
Edy Soares
GUIRLANDA
Ela foi nesta vida, o encanto breve,
o encanto que depressa se perdeu,
feito palavra que no pó se escreve.
Foi chama que luziu e padeceu.
Ela foi um perfume muito leve,
o vento o dissipou no sopro seu.
Deve ter sido um vago sonho, deve
ter sido estrela, sombra, vulto, breu.
Indago dia e noite, desde então,
às horas em insólita ciranda:
– Foi verdade esse enleio? Ou ilusão?
Observo a singular fotografia,
o riso igual à flor de uma guirlanda,
a ilustrar uma lápide sombria.
Paulo Maurício
TORMENTA
Mar tormentoso, o vendaval rompeu;
doidas serpentes, vagalhões fatais.
Sou o infeliz que a imensidão varreu,
barco à deriva que não vê o cais.
Nem uma estrela a vastidão proveu;
quem, no silêncio, há de escutar meus ais?
Astros do céu, resplandecei no breu,
que o coração não sobreleva mais.
Busco na noite a inspiração incerta,
mas a anelada convicção deserta...
nesta aflição, o destemor desmaia.
Brilho da lua, socorrei-me presto,
iluminai este porão funesto,
quero voltar à proteção da praia.
José Erato
PROCURA
Como se te perdesse, assim te quero,
de sedes e desejos inundada...
És a água que se bebe na alvorada,
és brisa sob o sol dourado e austero.
Desejo-te num todo, e então te espero
no arco-íris, na manhã, na noite e em cada
fôlego e riso. Na alta madrugada
busco-te em sonho lídimo, sincero.
Procuro-te no cerne das voragens,
nas nuvens e nos ventos mais selvagens,
nos ermos desta ausência que me invade.
Espreito muito além das altas portas,
onde julguei as minhas asas mortas
e encontro-te nas frestas da saudade.
Geisa Alves
CHAMADO DA VIDA
A vida, passageira feito o vento,
vai me levando por lugares, tantos...
onde há beleza, às vezes desencantos,
onde a tristeza e o riso experimento.
A vida feito um mar em movimento,
num sobe e desce, em ondas, tece encantos,
desilusões, perigos, medos... quantos!
Ao seu chamado, pronta, me apresento.
Não adianta se esquivar da vida,
ela precisa ser melhor curtida,
pois tudo é aprendizado para nós.
E sendo a vida breve, quente ou fria,
que o tempo nos revele a sintonia
e a chance de jamais estarmos sós.
Aila Brito
DESVELO
Por enorme que seja a minha luta
para fazer um verso de ouro puro,
uma luz que se acenda em meu escuro,
o doce saboroso de uma fruta;
por mais que seja assim, confesso, juro,
forças terei, sem me valer da bruta,
o sonho não me falta, na conduta,
que não falte o saber, nem falte apuro.
Fazê-lo, todavia, é só um sonho,
não tenho esse talento tão medonho,
não, como o têm alguns afortunados.
Apenas gostaria, por desvelo,
ou, talvez, por orgulho, para vê-lo
figurar no painel dos mais sonhados.
Raymundo Salles
CANTO DE ESPERANÇA
O sol há de nascer depois da noite vasta,
a iluminar o breu com raios de esperança,
a dissipar a dor, que nos maltrata e cansa,
tristeza e tudo o mais que a nossa paz vergasta.
O sol há de nascer da aurora em que se engasta,
a derramar em tudo a luz da temperança,
da força que há na fé, que o mal contrabalança
e que à descrença, enfim, coloca um fim, um basta.
O sol há de aquecer os corações descrentes
e transmudar, também, os sentimentos, mentes,
a cada amanhecer, na cíclica rotina.
E tudo passará – pois tudo sempre passa –
até o vinho bom se evola em fina taça
e a vida é um vir a ser que a luz solar germina.
Edir Pina de Barros
CORAÇÃO
Segura, coração, as tuas cordas
e para de bater descompassado,
não queiras me deixar amargurado
com tuas peripécias tão calhordas.
Tornaste glacial, que nem recordas
do nosso acordo outrora rubricado,
num pergaminho opaco e amarelado,
garatujando as tuas tristes bordas.
Bombeia, coração, nas mil aortas,
as dores que eu julgava estarem mortas
no peito abrasador do vil poeta.
Um dia cansarás de badalar
e em busca alucinada de outro altar,
terás cumprido, enfim, a tua meta.
Adilson Costa
A ARTE DO ENCONTRO
Preceitua o aforismo ser “a vida
a arte do encontro”; pois que seja assim
no transcurso, agitada, esbaforida,
na luta ensandecida por um fim.
E será na jornada percorrida
que mãos entrecruzadas vão a fim
de alcançar sua glória merecida,
como sói o desejo dentro em mim.
Porém na terra — o meu pouso final,
a cada encontro tenho um novo alento
para vencer o intenso vendaval.
Mas pergunto: Será preciso tanto?
Ora! — respondo sem constrangimento:
não há mal em pensar além, no entanto!...
José Walter Pires
SINTO-ME ALVO DA DIVINA ESTIMA
É verdade, não nego, reconheço,
que, por tanta ventura recebida
de Deus, no curso desta longa vida,
nunca terei como pagar-Lhe o preço.
Tenho dúvida quanto a se mereço
toda a felicidade concedida
a mim, que de alma sempre agradecida,
alvo me sinto do divino apreço.
Acresço às outras bênçãos que Lhe devo:
fazer-me amar poesia, ser longevo,
sempre achar uma luz se estou no escuro...
E, em graças, se algo resta, projetado
para mim, hei de ver concretizado
nos anos que me venham no futuro.
Kleber Lago
SONHAR, SONHAR...
É noite, a nostalgia persevera...
ao sentir a escassez, eu faço a prece,
logo adormeço e o sonho comparece:
vejo no abismo o erguer da primavera,
e não será a última benesse,
assim que avanço, a redenção me espera...
há muita luz nas sendas da quimera
e quase todo mundo a desconhece.
Sonhar, sonhar... quem dera fosse eterno,
abrandaria a solidez do inverno
que reforça a saudade sorrateira.
Sonhar, sonhar... quem dera, simplesmente,
viver no faz de conta tão somente,
fugir da realidade a vida inteira!
Janete Sales
ÁGAPE APOTEÓTICO
Incondicionalmente, tanto almejo
e anseio pelo amor neste momento.
No momento, é assim que me apresento,
cativo estou perante o meu desejo!
Em razão de emoção que ainda vejo
que a mim não hás do mesmo sentimento.
Infelizmente eu não te complemento,
mesmo assim eu arrisco o meu cortejo.
Não tens no coração nem tens na mente,
tampouco na alma, o amor a ser moldado:
tu não me amas! E entendo plenamente.
Por mais triste que seja amar sem ser
amado, o amor não force ao ser amado:
ame-o, amando-se a si, do amado ser!
Bruno Fagundes Valine
BÁLSAMO
A luz de teu olhar é pura chama
que atiça o meu anseio mais ardente.
Queima meu coração que te reclama,
na angústia de sentir avidamente
o afeto imensurável de quem ama
em profusão, de forma tão demente,
que a razão se desfaz e vive o drama
de perder a noção do que se sente.
Se é paixão ou amor, não sei dizer,
só sei que é crucial o bem-querer
que revigora e ativa a minha alma.
Tua existência é meu real alento,
cura meu ser que está em sofrimento...
Bálsamo para a minha vida em trauma.
Paulino Lima
GRÃO DE TRIGO
O sabor da manhã na mesa posta
pelas mãos que alimentam desde o início,
e fazem pela vida como ofício,
devoção de mulher em mãe composta.
O dia resplandece por resposta,
o amor que há numa mãe é vitalício,
incondicional, tal como um vício,
ao filho devotado que se encosta.
Vem o leite materno para o colo,
e aos maiores o pão fresco e quentinho
nutrir uma família de mãe-ninho.
Bom dia de uma mãe é como solo
de canção que por graça vira abrigo
que começa em um simples Grão de Trigo.
Márcio Adriano Moraes
FORA DO PADRÃO
Diversidade traz total questão;
opiniões divergem quanto ao gosto:
nos tons de verde ou rosa, sempre estão
a analisar marés, após sol-posto.
O “diferente” sofre muito, então,
carrega a culpa, traz a dor no rosto
que esconde o choro; com real jeitão,
não sabe rir e geme por desgosto.
Como explicar na vida a causa e efeito
que faz morrer os sonhos, dia e noite,
de irmãos do Cristo, o Filho tão perfeito?
Em meu jardim, vi flor sem ter perfume!
Na solidão, tristonha, fiz pernoite...
A flor de espinho tem valor e assume.
Silvia Araújo Motta
SEM RESSENTIMENTOS
De tudo que passou nas nossas vidas,
que fique o grato eflúvio da saudade,
que viva para toda eternidade
o afeto das quimeras mais floridas.
Não seja o véu de lágrimas sentidas
o tom final da lídima amizade
que, agora, em nossa nova afinidade,
subsiste sob a luz das despedidas.
O amor presume bênçãos, não castigo,
e em mim sempre terás um bom amigo
disposto a dar-te a mão na trilha incerta.
Talvez lembrar os sonhos do passado
console um coração despedaçado
e me amenize a dor da chaga aberta.
Paulo Cezar Tórtora
MOMENTOS FLAGRANTES DE AMOR
A lua que branqueia a nossa estrada,
no nosso bom, idílico momento,
na noite, sob o olor do brando vento,
faz-se tranquila, sóbria e iluminada.
E, quando chega a fresca madrugada,
em cada peito brota o sentimento
de grã ternura, em gesto e acolhimento,
para o florir do amor na embalsamada
aurora, perfumada, cor- de-rosa,
à luz da poesia esplendorosa.
E ali, juntinho ao mar, na branca areia,
eu vejo em ti o amor em resplendor,
em ânsias olorosas de uma flor,
na hora que vens a mim, Yara sereia!
J. Udine
EQUÍVOCO
O teu agir insano é meu castigo,
quando persigo o riso e o meu prazer,
porém, com esperança assim prossigo,
os bons momentos nunca irei perder.
Mesmo tristonha e só, silente eu sigo,
os teus olhos brilhantes quero ver,
reacendendo o candeeiro antigo,
driblando a cada dia o desprazer.
Castigas-me ao pensar que é meu o orgulho,
enquanto em solidão e dor mergulho,
não sabes quanto mal fazes a mim.
Somente o amor e o tempo irão mostrar-te,
que esse pensar, de mim nunca fez parte,
ó meu excelso e amável Querubim!
Marlene Reis
CASTELO DE AREIA
A minha vida, feita de mistura,
embora surda a tudo o que argumento,
repleta de ilusão e sofrimento,
produz sabedoria que me cura.
É joia preciosa que eu alento,
polida em cada dor, em cada agrura,
centelha que se esvai na noite escura,
fumaça carregada pelo vento.
A vida é como nuvem passageira,
é como sombra que se move, breve,
frágil cristal que desce a cachoeira.
A vida é um castelo à beira-mar,
no aguardo de uma onda que lhe leve
o abraço derradeiro e singular!
Luciano Dídimo
PARADOXAL
Estranho é mesmo o amor quando acontece:
convida-te à prisão da liberdade.
À fresta em teu olhar, pedindo, invade...
semente lhe caindo, e já é messe.
Em vão irás provar-lhe a insanidade,
como quem nega o sol que resplandece.
Por mais desejes sombra, em mantra, prece,
a luz refulge alheia à tal vontade.
O amor te abriga o peito sem licença
e faz de ti um órfão no horizonte
dos olhos em que, agora, o instinto pensa.
É o bem perdido, o mal que se procura;
é vida e é morte; o sim, do não, defronte!
Mas dúbio, sendo um só, é dor e é cura.
Luciana Nobre