Soneto Minha Alquimia...:😋 (...com Vinícius de Moraes)

Soneto Minha Alquimia...:😋

Farei um almoço à moda minha...

Preparando com esmero e cuidado...

Hoje será à brasileirinha...

Perfeito para o dia de sábado...

Cebola e alho na couve verdinha...

O feijão no fogo, na panela ao lado...

Na frigideira o bacon e a farinha...

No feijão: o lombo, a orelha e o rabo!!!

Para esquentar uma pimentinha...

E completar o almoço abençoado:...

Não pode faltar a boa caipirinha...

Sem excesso, da gula ou pecado...

E assim eu batizo a minha alquimia:...

"Feijoada à moda do Ricardo!!!"

Poeta Plebeu - São Paulo, 2024

😋🍲😋🍲😋🍲😋🍲😋🍲😋🍲😋

FEIJOADA À MINHA MODA

Amiga Helena Sangirardi

Conforme um dia eu prometi

Onde, confesso que esqueci

E embora - perdoe - tão tarde

(Melhor do que nunca!) este poeta

Segundo manda a boa ética

Envia-lhe a receita (poética)

De sua feijoada completa.

Em atenção ao adiantado

Da hora em que abrimos o olho

O feijão deve, já catado

Nos esperar, feliz, de molho.

E a cozinheira, por respeito

À nossa mestria na arte

Já deve ter tacado peito

E preparado e posto à parte

Os elementos componentes

De um saboroso refogado

Tais: cebolas, tomates, dentes

De alho - e o que mais for azado

Tudo picado desde cedo

De feição a sempre evitar

Qualquer contato mais... vulgar

Às nossas nobres mãos de aedo

Enquanto nós, a dar uns toques

No que não nos seja a contento

Vigiaremos o cozimento

Tomando o nosso uísque on the rocks.

Uma vez cozido o feijão

(Umas quatro horas, fogo médio)

Nós, bocejando o nosso tédio

Nos chegaremos ao fogão

E em elegante curvatura:

Um pé adiante e o braço às costas

Provaremos a rica negrura

Por onde devem boiar postas

De carne-seca suculenta

Gordos paios, nédio toucinho

(Nunca orelhas de bacorinho

Que a tornam em excesso opulenta!)

E - atenção! - segredo modesto

Mas meu, no tocante à feijoada:

Uma língua fresca pelada

Posta a cozer com todo o resto.

Feito o quê, retire-se caroço

Bastante, que bem amassado

Junta-se ao belo refogado

De modo a ter-se um molho grosso

Que vai de volta ao caldeirão

No qual o poeta, em bom agouro

Deve esparzir folhas de louro

Com um gesto clássico e pagão.

Inútil dizer que, entrementes

Em chama à parte desta liça

Devem fritar, todas contentes

Lindas rodelas de lingüiça

Enquanto ao lado, em fogo brando

Desmilingüindo-se de gozo

Deve também se estar fritando

O torresminho delicioso

Em cuja gordura, de resto

(Melhor gordura nunca houve!)

Deve depois frigir a couve

Picada, em fogo alegre e presto.

Uma farofa? - tem seus dias...

Porém que seja na manteiga!

A laranja gelada, em fatias

(Seleta ou da Bahia) - e chega.

Só na última cozedura

Para levar à mesa, deixa-se

Cair um pouco da gordura

Da lingüiça na iguaria - e mexa-se.

Que prazer mais um corpo pede

Após comido um tal feijão?

- Evidentemente uma rede

E um gato para passar a mão...

Dever cumprido. Nunca é vã

A palavra de um poeta... - jamais!

Abraça-a, em Brillat-Savarin

O seu Vinicius de Moraes.

Vinícius de Moraes - Rio de Janeiro, 1962.

Poeta Plebeu
Enviado por Poeta Plebeu em 01/06/2024
Código do texto: T8075987
Classificação de conteúdo: seguro