O COVEIRO

Como se fora feito de retalho

de precioso tecido inconsútil

que, no milharal, vestia o espantalho,

veio ao mundo para servir e ser útil.

Caro amigo, tipo que cheira a alho,

imprescindível, nem um pouco fútil;

certamente ás de ouro do baralho

e jamais uma carta baixa e inútil.

Agora, posto em sinistro ataúde

como,outrora, outros velou e amiúde

abriu covas a sete palmos do chão.

O tempo voraz furtou-lhe a saúde

mudando a face do coveiro rude

no semblante de quem cumpriu a missão.