Culex
(À Sra. Stephanie Armelin)
O poeta, feito um mosquito impertinente,
Sai à caça da infausta refeição;
Zumbe cá e lá, carente de sua nutrição,
Até que pousa em nívea nuca insciente.
E zumbe, e zune sua canção renitente
Enterrando, indelicado, o seu ferrão –
E eis que, num paroxismo de gula, o glutão
Bebe até rebentar as tripas finalmente –
E tal qual ele adora sangue, o poeta
Adora zunir sua ardente poesia
Nos ouvidos de sua musa predileta,
E a fome que tem de amor e de amar sacia
Com beijos em rica, excessiva dieta,
À espera de também rebentar-se um dia!