TRILHA DE SONETOS CXXXVI - DIÁLOGO COM A BANDA "EGOTRIP"
*VIAGEM AO FUNDO DO EGO*
(Banda Egotrip)
Há um lugar místico em mim
Algo assim bem escondido
Um planeta inexplorado
Um horizonte perdido
Me embrenhei na mata virgem
Como um nativo zumbi
Mergulhei fundo no oceano
Como um Jacques Cousteau parti
Explorador sem experiência
Marinheiro de primeira viagem
Embarquei de peito aberto
Levando só a coragem
Coragem pra enfrentar
Frente a frente eu comigo
Como se enfrenta um irmão
No exército inimigo
Coragem pra encarar
Frente a frente eu no espelho
Como se encontra um irmão
Que lhe nega um conselho
Quase no fim da estrada
Uma voz veio me dizer
Se você quer seguir, cuidado
Não vai gostar do que vai ver
E a volta foi difícil
Retornei de mãos vazias
Nessa minha egotrip
Não fui Davi nem fui Golias
Explorador sem experiência
Viajante sem bagagem
Perdi tudo o que eu tinha
E o que eu tinha era só a coragem
Coragem pra enfrentar
Frente a frente eu comigo
Como se enfrenta um irmão
No exército inimigo
Coragem pra encarar
Frente a frente eu no espelho
Como se encontra um irmão
Que lhe nega um conselho
Coragem pra enfrentar
Frente a frente eu comigo
Como se enfrenta um irmão
No exército inimigo
Coragem pra encarar
Frente a frente eu no espelho
Como se encontra um irmão
Que lhe nega um conselho
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*EFEITOS CIRCULARES*
Durante as sucessivas metanoias,
Reais metamorfoses ambulantes,
Os seres em processos variantes
Revelam-se reféns das paranoias...
Encontram nos mergulhos espelhantes
Surpresas e verdades, raras joias,
Que induzem na imersão de infindas Troias,
Tratando, em bom combate, os maus reinantes!
Retira-se dos íntimos jazigos
Os traumas que concretam inimigos,
Tornando-se do mundo bons leitores...
E livres dos profundos surtos, agem
Mais leves e felizes na viagem,
Sem confundirem obras com autores!
Ricardo Camacho
*DIÁLOGOS ÍNTIMOS*
Além de mim, quem guarda vários “eus”?
Por certo, não serei a pioneira
que dialoga, em tom de brincadeira,
consigo própria… (qual se faz com Deus!)
Ajunto tantos rostos que são meus:
o sorridente e adepto da leseira,
o que controla e impede alguma asneira,
o que, com fé, respeita irmãos ateus…
Meu “lado ovelha” veste a cor-rebanho,
num ímpeto amoroso sem tamanho…
(abraçaria todos de uma vez!).
Mas tenho um lado extremo, solitário,
que anseia desenhar o imaginário
nos alpes… feito a cabra (a tal montês!)
Elvira Drummond
*CASTIGO E INSPIRAÇÃO*
Viajo por um mundo inexplorado,
feito um aventureiro, sem destino,
portando a experiência de um menino,
mas com o seu intento inalterado.
Enquanto exploro, o meu olhar traquino
vasculha cada canto do tablado,
analisando as cenas do passado,
atento ao canto escuro, clandestino,
que existe em mim e me provoca o medo...
(fruto da maluquice, do segredo
que me tornou refém do desamor).
Os dias vão passando e a solidão
_ o meu castigo e a minha inspiração _
repousa neste peito sofredor.
Aila Brito
*ALTER EGO*
Meus versos são telúricas mensagens
Que primam pelo amor e nunca a guerra
E o embate que defendem, nesta Terra,
É o bem vencendo o mal sem ter vantagens.
Nas fratricidas guerras as imagens
Que a vil humanidade, então, descerra
Revelam que o homem, sem noção, enterra
A grandiosidade das paisagens
Que fazem deste mundo o paraíso.
Perdi o meu complexo de Narciso,
Dedico minha lida à natureza...
Para ela dou-me todo em prosa e verso,
Pois sei que não existe no universo
Um astro igual que ostente tal beleza.
José Rodrigues Filho
*VAZIO INTERIOR*
Mergulho fundo em meu interior,
encontro, em mim, um místico lugar,
busco coragem para desvendar
esse mistério desafiador.
Exploro, com cautela e com temor,
cada detalhe, sem pestanejar...
Respiro fundo, fico a murmurar,
ao ver no espelho um rosto sofredor.
Feito um nativo cazumbi, sozinho,
rumino a mágoa, sinto, em mim, o espinho
sulcar o peito e enchê-lo de aflição.
Chego ao final da exploração, vazio...
tal qual na imagem, vi o irmão vadio
que se perdeu no mundo da ilusão.
Aila Brito
*VIAGEM EM MIM*
Percebo que o Infinito mora em mim,
mergulho, em sua busca, no meu eu,
procuro, no silêncio, em meio ao breu,
nas águas tão profundas, tão sem fim.
Existe um mundo em mim que não é meu,
preciso urgentemente de um motim,
não vejo mais as flores no jardim,
o meu inconsciente emudeceu.
Resisto, sem querer, ao meu espelho,
pois falta-me coragem de encarar
Aquele a quem eu sei que me assemelho.
Anseio seja a vida linear,
preciso então dobrar o meu joelho
e descobrir em mim o meu lugar!
Luciano Dídimo