METONÍMIA
Enquanto leio um soneto, deitado,
sobre chuva, e saudade que não passa,
vejo água escorrendo na vidraça,
ouço choro de chuva no telhado.
Lembro uma voz e um rosto do passado,
num desenho que o pensamento traça,
que a saudade é alguém que se disfarça
e vem deitar-se, à chuva, ao nosso lado.
Lá fora, a chuva, mansa, continua
a umedecer e acalentar a rua,
que dorme, alheia, a dor que, ora, me invade.
Fecho o livro ... os olhos, mas não fecho
o coração, que, agora, no desfecho
do soneto, transborda de saudade.