CHUVAS PARALELAS
Contemplo a chuva. É noite. É quase nove
horas. A rua toda embranquecida...
Um quê de não sei quê que me comove
percebo na vidraça umedecida.
Enquanto a água da chuva remove
alguma folha de árvore, caída,
sinto que dentro de mim também chove
numa enxurrada forte, desmedida...
Trazendo coisas pra fora de mim,
já tão perdidas, tão longinquamente,
de um tempo que, bem sei, não volta mais.
São duas chuvas, num chover sem fim,
uma levando as coisas pela frente
e a outra trazendo o que ficou pra trás.