Dor otimista
(À Sra. Stephanie Armelin)
“O happy dagger!”
(Shakespeare, ROMEO AND JULIET, ato V, cena 3)
“[…] enquanto a bela vive,
Também, Glauceste, vivo.”
(TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA)
Ainda outra vez te acaricio, meu punhal,
Qual à incorpórea silhueta sonhada
Do alteroso Ideal – da mulher amada –
Tosca, às pressas, coligida em material.
É bom sentir tua frialdade de metal
Tal qual os ósculos de uma namorada,
E admirar a rutilância prateada
De tua lâmina esguia, ó meu punhal!
Mas… outra vez resisto à tua tentação
E guardo-te à bainha, as mãos a tremer,
Sem que sorvas do rubro de meu coração –
Ah, meu punhal…! Como poderia morrer
Se o anjo unido a mim por um astro malsão
Vive – e, enquanto vive, devo eu também viver…?