SONETO DA NOITE (QUASE) ETERNA.

se durmo, por acaso morro?

pois não é esse de hoje que amanhece,

mas um outro que esse de hoje desconhece

e que para o de amanhã lançará semente.

talvez seja a madrugada um ventre,

a mãe que me dá à luz todas as manhãs,

rebento impúbere para o novo dia a despeito de minhas cãs,

para não ser o orfão do dia anterior.

se morro, atravesso num silencioso esplendor,

no colo da lua que me acolhe

e me batiza no credo do novo sol.

se morro, não carrego casa como caracol,

não há memorial

não há herança.