DE AMORES E DE CHUVAS
A saudade é a lâmina que mais corta
e tem a cor e o fogo que há no vinho,
e chega, sempre assim, devagarinho
e entra em nosso peito e desconforta.
Pela vidraça, contemplo sozinho
a tarde cinza, fria e absorta...
Lá fora, a chuva escorre de mansinho,
como um rio de lágrimas, sobre a porta.
...A chuva foi-se... A tarde é fria e triste,
que tudo fica triste se o amor passa,
tirando a graça de tudo o que existe,
Mas a vidraça em meu olhar embaça,
que dentro, em mim, o teu amor persiste,
e chove em mim... É tudo tão sem graça!