*TRILHA ABSC 8 - PERSONAGENS DA LITERATURA UNIVERSAL*

*BRÁS CUBAS*

Em folhetins, das mãos do Bruxo eterno,

Nasceu a clássica autobiografia,

Num misto de saudade, nostalgia

E as vivas impressões do mundo externo.

Do mórbido delírio, breve inferno,

Narrou a morte imersa na ironia

E, após, o nascimento na euforia

Do amor de mãe e um coração paterno.

Enfeitiçado no verdor da idade,

Banhou-se de prazer e castidade

Nos braços de Virgília, a sua flor.

Em parcos versos, eis a trajetória

Da inesquecível póstuma memória

Do personagem e defunto autor.

Ricardo Camacho

*MEMÓRIAS PÓSTUMAS*

Vou relembrando aqui, sozinho, as dobras

Do que vivi. De forma resumida,

Não tive trajetória tão florida

Nem me empenhei em célebres manobras.

Em toda a caminhada construída,

Vasculho e não encontro grandes obras;

Sem ter vivido à míngua e nem com sobras,

Conclui-se que estou quite com a vida.

Analisando todas as ações

Não há, de fato, contribuições

Nas artes, nos negócios, na ciência...

Mas sou feliz por não haver deixado

A criatura alguma o vil legado

Da nossa miserável existência.

Gilliard Santos

*ETERNAMENTE EMÍLIA*

Emília — a bonequinha mais falante

que já cruzou o mundo literato —

entrou na minha vida e, num instante,

descortinei encantos… (fiz um trato!)

Emília coloriu meu chão de infante…

(provável alter-ego de Lobato),

desfez conceitos tolos que a garante

galgar o pódio, o topo do estrelato!

Emília, sem pudores, desafia…

combate, com vigor, a hipocrisia,

despindo pensamentos que eu endosso.

Desfia seu rosário de acuidade

e diz com ar de muita autoridade:

— Eu sou só “a boneca”, e tudo posso!

Elvira Drummond

*O 4º MOSQUETEIRO*

Buscar a meta! O empenho em demasia:

– servir o Rei, na guarda… um mosqueteiro!

E, D’Artagnan, sonhava que seria

espadachim da França e bom guerreiro.

Perigos enfrentou na confraria:

– vilões, duelo, intriga... o tempo inteiro,

( pois Alexandre, o autor que tudo urdia,

até suspense impôs ao seu roteiro).

Ao digno e hilário trio se juntou

e os nomes: Athos, Porthos e Aramis…

O lema desses guardas: “ Um por todos

e, todos, por um!” Dumas destacou

o seu protagonista e o fez feliz,

após as peripécias e os engodos!

Lucília A. T. Decarli

*CIÚME EM DOM CASMURRO*

Eu tenho muita pena de Bentinho

que passou pela vida sem viver,

por um comportamento vil, mesquinho,

permitiu o ciúme lhe envolver.

No caule da roseira do viver

é o ciúme um cruel e duro espinho

que magoa, machuca e faz sofrer,

turvando as alegrias do caminho.

Por causa do ciúme nu e cru

perdeu Bentinho o amor de Capitu

e uma existência de horas bem vividas.

No mundo, outros Bentinhos vivencio,

por conta de um ciúme doentio,

desperdiçando o amor de suas vidas.

Arlindo Tadeu Hagen

*MIGUILIM*

Em Guimarães, tão Rosa, a personagem,

de enorme encantamento, Miguilim!

As descobertas, do princípio ao fim,

de um menino, em inóspita paisagem.

No mundo, ainda começando a viagem,

sempre em conflito, sofre muito, assim.

A Avó! Pai! Mãe com Tio Terez! Enfim,

águas revoltas, que não dão passagem.

Criança diferente das demais,

sofrendo o desencontro de seus pais,

num desamor, que leva à perdição!

Questiona tudo, em seu sentir profundo.

Nas lentes do Doutor, descobre um mundo,

no imaginado encanto do sertão!

Fernando Antônio Belino

*A MÃE*

Mulher, submissa, no patriarcado

Russo, em Somorvo, na época czarista,

Ao ver Pavel, o filho, um ativista,

Enxerga seu porvir modificado.

Vivia Pélagué, no mundo errado,

Sob opressão eterna e fatalista...

Mirou-se no ideal socialista

Após morrer o cônjuge malvado.

A Mãe agora via, com clareza,

Que esta sociedade e a natureza

Renovam-se cortando os obsoletos

Liames que lhes neguem a liberdade.

À noite, Pélagué ronda a cidade

Distribuindo, altiva, seus panfletos.

José Rodrigues Filho

*MORRER DE AMOR*

Ainda escuto o trágico disparo

Nos ecos do passado, e me arrepio...

Nenhum sinistro dom, ou gênio raro,

Conceberia um quadro tão sombrio.

Caído em meio ao próprio sangue frio,

O jovem suspirava, em desamparo.

Jorrava um tenebroso, intenso rio

Da fronte que ostentava um furo claro.

"Adeus, Guilherme, amigo! Adeus Carlota!"

Naquele instante frágil, de derrota,

Tornou-se algoz de si, autor do fim.

Morreu de amor? Difícil de aceitar...

De fato, não se morre por amar,

Por mais que seja bom dizer que sim.

Guilherme de Freitas

*SIMÃO BACAMARTE, O LOUCO PERFEITO*

A mente humana tem os seus mistérios

e em sua trajetória vivencia

do açoite da procela à calmaria,

às vezes contra os próprios desidérios.

O tema despertou estudos sérios

do médico Simão até que um dia

à dita Casa Verde conduzia

supostos loucos ante seus critérios.

Prendendo até a esposa, Bacamarte

reformulou conceitos, à clausura

levou normais e, após, insatisfeito,

de nova tese fez um estandarte

e, em meio ao povo escravo da loucura,

no hospício, só, findou porque perfeito...

Jerson Brito