A SÓS

A SÓS

A aventura existencial é solitária

Ainda que o ente seja ser social

Vida não é casual, é necessária

Vendo que é singular o espiritual

O homem físico não se vê a sós

Contudo o entorno é contingente

Solidariedade é universal em nós

Individualidade nos faz diferentes

Não se compartilha tristeza e dor

Também felicidade enquanto valor

Pois a natureza do sentir é única

Aquele que sente não tem dúvida

Um sentimento ninguém mensura

Somente quem vivencia a ventura

Marco Antônio Abreu Florentino

Poema que faz referência e reverência à obra literária ¨Morrer a Sós em Berlim¨ do alemão Hans Fallada (pseudônimo de Rudolf Wilhelm Friedrich Ditzen (1893-1947).

O autor terminou de escrever Morrer a Sós em Berlim (ou Cada Um Morre Por Si, ou ainda Morrer Sozinho em Berlim) logo depois do final da guerra e morreu sem vê-lo publicado.

O romance ficcional, baseado em fatos reais, conta a história do casal Otto e Elise Hampel, que no romance passaram a ser Otto e Anna Quangel, trabalhadores comuns que vivem o drama de ter perdido o filho na guerra.

A história se passa entre 1940 e 1942, dois anos em que o casal distribuiu mensagens contra Hitler e os nazistas, escritas em cartões que eram deixados quase sempre em edifícios de escritórios, por onde circulavam muitas pessoas.

Essa foi a forma que encontraram de resistir ao regime assassino, que prendia, torturava e matava não apenas judeus e outras minorias, também os alemães que se manifestassem contrários a ele.

Para muitos, e entre esses eu me incluo, é considerado o romance mais importante sobre esse período de trevas da humanidade. Uma extensa leitura com mais de 800 páginas detalhando todas as circunstâncias, à época, que levaram ao inominável desastre do holocausto.

Também entra nos meandros da natureza humana e a infinita e inata maldade que muitos carregam dentro de si, fenômeno brasileiro atual e amplamente observado nos indivíduos de extrema direita e bolsonaristas.

A obra, que já se tornou em moderno clássico da literatura alemã e, como observou Roger Cohen em sua resenha do The New York Times de 03/05/2010: ¨o livro de Fallada tem um pouco do horror de Conrad, a loucura de Dostoievski e a ameaça assombrosa de ¨A Sangue Frio¨, de Capote.

Pois é, diante disso tudo não dá para ¨Morrer a Sós em Berlim¨ deixar de ser lido por aqueles que se importam com o que aconteceu na História e não desejam vê-la repetir-se sob outras formas em outros tempos.

E volto a citar Cohen: ¨nos tranquilos Quangels, Fallada criou um símbolo imortal daqueles que lutam contra o vil além de toda vileza¨ e assim redimem a todos nós.

https://youtu.be/8QOx5GBZZpQ

(Sozinho - Peninha)