TRILHA DE SONETOS CXXXIII - DIÁLOGO COM MILTON NASCIMENTO
*CORAÇÃO DE ESTUDANTE*
Quero falar de uma coisa
Adivinha onde ela anda
Deve estar dentro do peito
Ou caminha pelo ar
Pode estar aqui do lado
Bem mais perto que pensamos
A folha da juventude
É o nome certo desse amor
Já podaram seus momentos
Desviaram seu destino
Seu sorriso de menino
Quantas vezes se escondeu
Mas renova-se a esperança
Nova aurora a cada dia
E há que se cuidar do broto
Pra que a vida nos dê flor e fruto
Coração de estudante
Há que se cuidar da vida
Há que se cuidar do mundo
Tomar conta da amizade
Alegria e muito sonho
Espalhados no caminho
Verdes planta e sentimento
Folhas, coração, juventude e fé.
Milton Nascimento
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*CANTO GERAL*
O tenro broto da democracia
Estava em risco, após a ditadura,
E os estudantes, jovens de alma pura,
Cantavam loas à soberania.
Metáforas criando poesia
E música de forma que a censura
Pudesse ser driblada com cultura
Consolidando o vate em maestria.
Nos dias atuais, a débil flor
Será reconhecida pelo ardor
Há muito dedicado à liberdade...
Em nossos corações habita, ainda,
A flama que acendeu de forma infinda
O orgulho de clamar por igualdade.
José Rodrigues Filho
*FORÇAS*
Durante acirradíssimos litígios,
Em épocas de luta e resistência,
Conserva-se mais forte, nos fastígios,
O pensador no altar da sapiência.
Mas os principantes de remígios
Enfrentam a atração da decadência,
Valendo-se das armas dos prestígios
Desenvolvidos pela inata essência.
Decerto que, nas garras dos conflitos,
Progride quem revela-se nos gritos,
Em nome do vigor na plenitude...
E ainda que não cessem reis precitos,
Virão, dos pântanos, peões malditos
Para nascer os bons da juventude!
Ricardo Camacho
*FLOR DA JUVENTUDE*
Por um futuro justo, a juventude
marchava contra a dura repressão...
no impulso, o sonho de transformação,
enchia o pensamento de atitude.
Pisava, destemida, o campo rude
da ditadura... a flor, lançando o grão
da liberdade, em solos da Nação,
reflorescia os sonhos, amiúde...
Diante da injustiça social,
lutava por um mundo mais igual,
com fé, amor, coragem e respeito...
Solicitando, a todos, o direito
de ter a liberdade de ir e vir...
com novas vestimentas no porvir.
Aila Brito
*GOLPE FRUSTRADO*
Lembrar a juventude vale tanto
Quanto colher o doce mel da vida,
Sendo, portanto, a fase mais querida,
Mesmo que às vezes nos trouxesse pranto.
A mocidade, em luta, fez-se canto...
Bravura não faltou, pois aguerrida,
A resistência, então reconhecida,
Pôs os coturnos no devido canto.
Fascistas, manobrados pelo mal,
Ferem a Lei Maior, nacional,
A fim de interromper a breve história
Escrita no fervor da liberdade...
Punidos devem ser, sem piedade,
Porque golpistas não merecem glória.
José Rodrigues Filho
*SELVAGEM*
A sós, em surda guerra, hei combatido
As minhas más, cruéis inclinações.
Não tenho o mais feroz dos corações,
Apenas um que, atento, tenho ouvido.
Se sou um vencedor ou sou vencido,
Ao léu da sorte deixo tais questões.
Conheço pouco as loucas intenções
Do balançar que a vida tem sofrido.
Costumo não guardar rancor, tristeza,
Pois quero um peito pleno de leveza,
De todo o bem que torna alguém feliz...
De um coração de selva, sou refém:
Nem mestre nem pupilo de ninguém,
Mas só, da vida estranha, um aprendiz...
Guilherme de Freitas
*SONHOS EM FLORAIS*
*SONHOS EM FLORAIS*
Em meio a ditadura e a recessão,
a resistência jovem se levanta,
soltando o grito preso na garganta,
clamando por justiça ao cidadão.
Nesse momento tenso de opressão,
a luta por mudança se agiganta...
renova-se a esperança, sacrossanta,
em ter a liberdade de expressão...
Deseja-se que o sonho reprimido
liberte-se do estado corrompido
e não se deixe corromper jamais...
E aqueles que desejam ser libertos,
que sigam por caminhos recobertos
por flores e perfumes de florais.
Aila Brito
*CORAÇÃO PRIMAVERIL*
Por certo que, durante a juventude,
a vida nos dá frutos do plantio,
pois mesmo em solo ingrato, pobre e rude,
a brisa da esperança está no cio…
A força vem de anseios que algo mude:
que, em meio ao temporal, sutil desvio,
de súbito, apareça e que, amiúde,
floresça, mesmo em tom de desvario…
O inverno da existência chegará,
mas não me entregarei ao “Deus-dará”,
pois minha fé — adubo de quimera —
resiste aos desafios da jornada…
as flores nascerão do quase nada,
pois no meu coração é primavera!
Elvira Drummond
*SOPRO DE ESPERANÇA*
Perante as opressões, o manifesto
do povo necessita ser mostrado
porque, se reprimido o justo brado,
desenha-se um futuro mais funesto.
O destemor presente em cada gesto
de quem afronta um mal imoderado
abala o impulso fero e, no recado,
a massa louva seu intento honesto.
A força de um protesto se avoluma
na proporção das vozes convergentes
que ecoam na dramática porfia.
O sopro de esperança afasta a bruma
que teima em sufocar o elã das frentes
impostas contra toda tirania.
Jerson Brito
*A FÉ*
A cada geração é renovado
o sonho de viver num mundo justo
e de lutar por ele a qualquer custo
para deixar mudanças de legado.
Heróis que não terão, na praça, um busto,
anseiam por um mundo transformado,
com paz e liberdade em novo estado,
na esfera de um direito mais robusto.
A juventude, sempre resistente,
jamais aceitará a repressão
e sempre partirá qualquer corrente.
Em toda ação há sempre reação,
a fé é corajosa e renitente,
com ela, novos dias nascerão!
Luciano Dídimo