O prisioneiro
(Uma parábola)
Conheci um doido que, em sua cela trancado,
Imóvel defronte à janela se sentava
E suas longas noites e dias passava
Contemplando o horizonte compenetrado.
Longos dias e longas noites, calado,
Nada ou ninguém do lugar o retirava;
Se havia algo ou alguém por que esperava,
Nada dizia, em sua cela trancado.
Já há algum tempo o pobre-diabo faleceu –
Se viu àquilo que aguardava finalmente,
Não houve vivalma que o esclareceu.
Ainda hoje, porém, suspiro tristemente
Ao recordar-me do coitado que morreu
Esperando – esperando inabalavelmente…