LENÇO DE SOL
Outrora fui céu sem escora,
Anil imenso, mais vedado,
O cerne puro, d'ais cravado
E nuvens negras, em demora!
Trovões em fúria, em desagrado,
Rasgavam dentro; via-se fora,
Nos olhos densos, de quem chora,
Gotas do sal mais encarnado!
E fiz-me rio, no tempo afora,
Do choro dentro qu'ia embora,
A drenar vida, ao certo fado...
E quando eu, quase na hora,
Te vi num lenço, como a aurora,
Abris-te em sol! Sequei, amado!
30-03-2024