Soneto póstumo

Contemplo agora o corpo putrefato,

Deixado em leito num jazigo escuro,

Observo os vermes passeando; um rato

Saindo de meu peito por um furo.

Ao sair, me deparo com o retrato,

Em minha fria laje, inda procuro.

Aquela vida que ontem foi o extrato

De um viver tão completo e tão seguro.

Neste momento, em súbita verdade,

Vejo que o tempo tem real valor,

E o corpo que restou é só vaidade!

Observo o meu estado e então me invade

A certeza de um quase dissabor:

Que só na morte temos Liberdade!

Alexandre Toledo
Enviado por Alexandre Toledo em 25/03/2024
Reeditado em 05/07/2024
Código do texto: T8027620
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.