Soneto póstumo
Contemplo agora o corpo putrefato,
Deixado em leito num jazigo escuro,
Observo os vermes passeando; um rato
Saindo de meu peito por um furo.
Ao sair, me deparo com o retrato,
Em minha fria laje, inda procuro.
Aquela vida que ontem foi o extrato
De um viver tão completo e tão seguro.
Neste momento, em súbita verdade,
Vejo que o tempo tem real valor,
E o corpo que restou é só vaidade!
Observo o meu estado e então me invade
A certeza de um quase dissabor:
Que só na morte temos Liberdade!