O asceta
“Profeta escarnecido pelas turbas
Disse-lhes, rindo: ‘Adeus!
Vim adorar na serrania escura
A sombra de meu Deus!’”
(ÁLVARES DE AZEVEDO)
Alheio aos sarcasmos da turba impia,
Em uma gruta o santo se refugiava.
Ainda que fraco, com fervor ainda orava –
Velho e doente, seu fim já pressentia.
Alheio ao Mundo, que o apontava e ria,
A plenos pulmões ele a Deus Pai implorava
Que lhe explicasse – por que ainda orava
Até então, se consumindo noite e dia.
Não chegou a concluir a oração:
A Morte, com pena do velho alquebrado,
Ceifou-lhe a alma – mudo, tombou ao chão.
Dizem, porém, que quando foi seu corpo achado,
Um puro sorriso, sereno e loução,
Adornava-lhe o rosto por rugas sulcado.