*TRILHA ABSC 7 - METALINGUAGEM*
*ARTE MAIOR*
Com muito prazer, estanco a agonia,
Compondo a canção, ilustre poema,
Que eleva a expressão na voz que irradia
Encanto, poder e graça suprema.
Pressinto vencer enorme dilema,
Soltando a emoção no verso, alegria,
Que anula a tensão no próprio fonema
Fazendo nascer o som - Melodia!
Lembrando um tenor, conduzo a cadência
Da composição, no firme compasso,
Que leva o leitor em bela fluência
Num voo retrô, à prístina essência,
Por meio da mão, da pena e do traço
Com esta versão de própria fulgência!
Ricardo Camacho
*SONHO DE POETA*
Quisera poder, num toque de mão,
levar ao leitor a excelsa magia
que o faça encontrar, talvez, fantasia,
mas chegue a sentir repleta emoção!
Nos versos, proponho haver sintonia
que inspire a compor a "eterna canção".
Debalde, almejar tenaz perfeição,
se entorna, o poema, obscura avaria...
E, pobre de mim, rabisco e rabisco,
depois os releio e os versos confisco;
desejo alcançar a intrínseca meta.
Caneta e papel... perscruto no prisma
a força da luz que excede o sofisma
e volto a escrever... Serei um poeta?
Lucília A. T. Decarli
*MINHA POESIA*
A forma de expressar meus sentimentos
sempre foi através da poesia.
Muito mais do que a fala, a fantasia
me acompanhou por todos os momentos.
Lamentei, versejando, os sofrimentos
e brindei as vitórias na alegria.
Através dos meus versos, sempre atentos,
testemunhei de tudo, dia a dia.
A poesia fez melhor meu mundo
mais fraterno, bonito e colorido
e deu à minha vida mais sentido.
Entretanto, o meu verso mais profundo
eu penso que jamais irei fazer
sobre as coisas que eu sinto sem dizer.
Arlindo Tadeu Hagen
*MALÍCIAS DO VERSO…*
O verso vem… achega-se discreto,
de modo tão suave, que sombreia
as suas intenções, o seu projeto
de armar, devagarinho, a sua teia.
Um verso tem seu próprio dialeto:
se tece palavrinhas, em cadeia,
enrama seu enredo tão completo,
que alumbra com clarão de lua cheia!
E, nesse ponto, o verso não espera:
assume o meu desejo de quimera
e faz de mim refém do coração!
Entregue, totalmente, ao seu capricho,
escuto o seu sussurro, o seu cochicho…
é o verso que conduz a minha mão!
Elvira Drummond
*UM SONETO, POR FAVOR!*
— Pois não, saindo agora o seu soneto:
rabisco palavrinhas no papel…
garimpo alguma ideia e, aqui, prometo
à escolha do argumento ser fiel.
Se antecipei o fecho do quarteto
com versos em galope de corcel?
Mas como? Sigo o passo em alegretto
(compasso de um perfeito menestrel)!
Verificar se as rimas vêm aos pares?
Se errei, eu jogo tudo pelos ares…
Retomo desde o par que se perdeu!
Jesus! É hora de pensar no fecho…
(aquele tal que brilha no desfecho).
Oh, céus, cheguei ao fim, leitor, (o meu!…)
Elvira Drummond
*RECEITA DE UM SONETO DE AMOR*
Em uma folha branca e bem untada
Despeje três porções de inspiração;
Coloque seis colheres de emoção
E mexa bem, de forma graduada...
Ponha de amor três xícaras de cada,
Depois uma pitada de paixão...
A massa, enfim, requer maturação
Para depois no forno ser assada.
Versejar é processo demorado...
Segue regras, qual fosse um algoritmo.
Não é simples o ofício de escritor!
Verso sáfico, heroico, agalopado?
Essa escolha depende do seu ritmo...
E eis um soneto clássico de amor.
Gilliard Santos
*VINHO E PÃO*
Se faço um verso novo, é bom sinal
de que resta comigo uma esperança,
de que a fúria do intenso vendaval
não dizimou meu riso de criança.
Refém do cerco atroz do imenso mal,
a minha lira insiste e não se cansa.
Mantém-se firme, em luta visceral,
contra esse breu que, sobre a luz, avança.
Quando escrevo, a poesia é um gesto forte,
que afasta, da navalha, o agudo corte,
mantendo acesa a tímida alegria.
A escrita é meu alento e minha cura;
é um vinho que me salva da loucura;
é um pão que me alimenta a cada dia!
Fernando Antônio Belino
*O POETA E O JABUTI*
No intuito de compor um sonetilho
Nas redondilhas encontrei as rimas,
Não sendo afeito ao cerne de obras-primas
Muito hesitei até achar o trilho.
Zelosamente, afasto o trocadilho...
Procuro não focar em pantomimas.
Coloco nos quartetos coenzimas
As quais darão formato ao novo filho.
Escrevo atento aos passos de um quelônio,
Recém-nascido, um novo patrimônio
Da natureza excelsa e criadora.
A inspiração aflora nos tercetos...
Relembro estrofes de outros meus sonetos,
Concluo a peça desafiadora.
José Rodrigues Filho
*PLUVIAL*
Malgrado um certo estio repentino,
E, sendo assim, maior que os outros medos,
Alguma gota molha o meu destino,
E um verso a mais me escorre pelos dedos.
De pingo em pingo, as sílabas combino,
E a estrofe me aparece sem segredos,
E após o fim do ciclo de refino,
Encaro o resultado de olhos ledos.
Centelha audaz que sou da luz divina,
Abraço as leis, a forma e a disciplina
Que exige o bom poeta, quando cria...
E desse modo, um vão papel em branco
Se torna o território sério e franco
No qual se faz chover a poesia.
Guilherme de Freitas
*NA MEDIDA CERTA*
Na construção do verso, a melodia
é requisito um tanto necessário,
ainda mais se o estilo literário
tiver, na forma, o arrimo que inebria.
Embora existam vozes em contrário,
enxergo plena a verve que se alia
ao regramento imposto e à simetria
usada quando grita o imaginário.
A liberdade dentro da clausura
de sílabas contadas, linha a linha,
reputo valiosíssima conquista.
Se estou também no público, à leitura
procuro dar cadência, nesta minha
audácia de encarnar um sonetista.
Jerson Brito