UM POBRE MAIS POBRE QUE EU
UM POBRE MAIS POBRE QUE EU
Andava tão perdido em pensamentos,
A recolher-me os cacos pelo chão,
Que de minha miséria ostentação
Eu fiz sem me poupar padecimentos.
Foi quando me surgiu nos desalentos
Topar d’entre os paupérrimos um grão:
Era um senhor de imensa solidão,
Diletante dos seus próprios lamentos.
Vinha d'olhar perdido e ensimesmado
De modo que ao passar bem ao meu lado
M’esbarrou sem pedir sequer licença.
Seguiu pelo caminho indiferente,
Deixando o seu vazio de presente,
A ponto de negar minha presença.
Belo Horizonte - 20 03 2024