Sob a areia
Tu és dos meus olhos o substancial perigo,
a deusa atroz dos males que mais quero,
das dores o calvário que eu persigo.
causa do meu suplício e desespero.
Deixo a peçonha das lágrimas comigo
e se as carnes rasgo e dilacero
é pra não dar-te a alma como abrigo,
pois queima, como fez a Roma, Nero.
Meu peito arde em chama abrasada
e numa pirogenia alegórica se ofusca;
quase que ferve o sangue em cada veia.
Mas se a paixão ainda jaz contigo sepultada
em árido deserto, aí termina minha busca:
Deixarei que fique minh'alma sob a areia!