Sob a areia

Tu és dos meus olhos o substancial perigo,

a deusa atroz dos males que mais quero,

das dores o calvário que eu persigo.

causa do meu suplício e desespero.

Deixo a peçonha das lágrimas comigo

e se as carnes rasgo e dilacero

é pra não dar-te a alma como abrigo,

pois queima, como fez a Roma, Nero.

Meu peito arde em chama abrasada

e numa pirogenia alegórica se ofusca;

quase que ferve o sangue em cada veia.

Mas se a paixão ainda jaz contigo sepultada

em árido deserto, aí termina minha busca:

Deixarei que fique minh'alma sob a areia!

Chaplin
Enviado por Chaplin em 03/01/2008
Código do texto: T801888