O CORTEJO
dos tantos hábitos de infância
o de contar carros no cortejo fúnebre ainda me acompanha.
não foram poucos os conselhos sobre o quanto de azar isso trazia
mas criança ou homem feito, essa alma não se acanha.
carros novos e velhos e outros nem tão novos nem tão velhos
sequer arriscavam um piscar de luzes, uma canção no rádio.
os passageiros todos com a mesma expressão de dor contida
pareciam enfrentar o ar pesado à ponta de gládio.
e assim que passava o último carro,
o sol ressurgia
e a cacofonia retornava.
do último alguém lançou uma ponta de cigarro;
o cortejo seguia
enquanto alguém fumava.