バラ お 忘れないで (NÃO SE ESQUEÇAM DA ROSA)

 

Aos hibakushas

 

I

O DESPERTAR DE ENOLA GAY...

 

Mr. President Harry Truman ordenou
Um botão foi acionado e... um clarão imenso
Rasgou a atmosfera, com tal resplendor,
De Hiroshima, derramando urânio intenso!

 

Envolvia a cidade um angélico silêncio…
Depois de uns minutos, um soluço de dor!…
Soberbo cogumelo atômico (quem vence-o?)
Doze quilômetros quadrados arrasou.

 

Japão, mil novecentos e quarenta e cinco.
Seis de agosto: O dia que não houve em Hiroshima...
... Tudo sepultado na memória... Pressinto

 

Que um novo tempo, cheio de paz, se aproxima!...
Ledo engano!... N'alma, o estigma, o sulco, o vinco
Dessa lembrança da morte que vem de cima!...


II
A DIMENSÃO DA TRAGÉDIA DE LITTLE BOY... 

 

Brasil, mil novecentos e setenta e dois
Treze de agosto nasce uma bela menina.
Hanako - a filha da flor; um botão, ora pois,
Que vem ao mundo cumprir sinistra sina!

 

Akio, seu pai, little boy, em Hiroshima,
Contaminado foi pelo cogumelo atroz;
Migra para o Brasil buscando outro clima
E a esquecer o triste  passado se propôs.

 

Para danos lhe causar não foi suficiente
A radioatividade em seu franzino corpo
Podendo, entretanto, surgir num descendente..

 

E eis que surge em Hanako, de forma tragicômica
Degenerando-a, sem dó alguma, aos poucos...
Pobre flor contaminada, pomba atônita…

 

III
O EMURCHECER DA AKAI BARA...

 

Hanako: filha da flor, contaminada,
Vítima de uma guerra sem heróis, perdida;

A murchar ainda em botão foi condenada,

Sem perfume, sem cor, sem pétala, sem vida!...

 

A antirrosa atômica, plutônica, energizada,

Satisfez, dos poderosos, a ambição desmedida,

Em detrimento, embora, da tez avermelhada

De muitas rosas atômicas emurchecidas!

 

Hiroshima, amigos, amantes da Poesia,

É uma ferida aberta ainda por cicatrizar,

Está presente aqui/agora a cada dia

 

Que se inaugura uma usina nuclear...

Há de ter fim dos Comandantes a cobiça avara

Que te impediu de florescer, ó Akai Bara?!

 

IV
VINICIUS E A ROSA DE HIROSHIMA...

 

"Mas oh não se esqueçam da rosa, da rosa..."

Um dia, em lágrimas, soluçou Vinícius!

Que não haja Hanakos com sina dolorosa

Que não haja mais estúpidos suplícios!

 

Que a paz se sobreponha aos malefícios

Do mundo e se proclame de todos calorosa

Serva e seja tão pródiga em benefícios

Florindo feliz à luz do sol maravilhosa.

 

Faltou um dia de verão em Hiroshima

Com seus encantos e suas horas cálidas;

Um dia de verão... ou seria de inverno?!

 

Pouco importa. A sombra da menina

Que evaporou sob o calor do inferno

Fala de rosas que a bomba tornou inválidas!

 

V
A TRISTE SORTE DAS PÉTALAS DANINHAS...

 

Rosas humanas: botões, flores, meninas

Impedidas de poder florir ao sol;

Com corolas radioativas, pequeninas,

Assustadas com o tom do arrebol!

 

Rosas de urânio (pérfido formol)

Rosas daltônicas, flores assassinas;

Radioativo, impávido farol

A fazer errar estrelas peregrinas...

 

"Pensem nas feridas como rosas cálidas"

outra vez ressoa a voz do Poetinha...

Da "rosa radioativa, estúpida e inválida"

 

Que ao menos sobre o sorriso que tinha...

Que não haja flores tímidas, esquálidas,

E que a vida medre entre pétalas daninhas.

 

Melgaço, Pará, Brasil, 6 de agosto de 2005.
Composto por Léo Frederico de Las Vegas.
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