TRILHA DE SONETOS CXXIX - DIÁLOGO COM CHICO BUARQUE

*A BANDA*

Estava à toa na vida

O meu amor me chamou

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor

A minha gente sofrida

Despediu-se da dor

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor

O homem sério que contava dinheiro parou

O faroleiro que contava vantagem parou

A namorada que contava as estrelas

Parou para ver, ouvir e dar passagem

A moça triste que vivia calada sorriu

A rosa triste que vivia fechada se abriu

E a meninada toda se assanhou

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor

Estava à toa na vida

O meu amor me chamou

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor

A minha gente sofrida

Despediu-se da dor

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor

O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou

Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou

A moça feia debruçou na janela

Pensando que a banda tocava pra ela

A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu

A Lua cheia que vivia escondida surgiu

Minha cidade toda se enfeitou

Pra ver a banda passar cantando coisas de amor

Mas para meu desencanto

O que era doce acabou

Tudo tomou seu lugar

Depois que a banda passou

E cada qual no seu canto

Em cada canto uma dor

Depois da banda passar

Cantando coisas de amor

Depois da banda passar

Cantando coisas de amor

Chico Buarque

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*A BANDA DO CORETO*

A banda que tocou em nossa praça

ressuscitou o esplêndido coreto.

O vilarejo triste (e até sem graça)

vibrou com a alegria, em “alegretto”…

Doente o menininho, da vidraça,

fingiu tocar co’a banda um minueto;

sorriu a velha… e o seu velhinho abraça,

lembrando o casamento, o “Sim, prometo…”

Crianças desistiram da varanda,

e, em meio à praça, giram… na ciranda,

o sonho ganha o tom mais verdadeiro…

Por que se diz “ a banda”, se é completa?

Se aflora a nossa essência de poeta?

A banda move o lugarejo inteiro!

Elvira Drummond

*MAGIA*

A banda passa... e a singular tristeza

Esvai-se no festejo do momento,

A música de amor em movimento,

Desperta o olhar e atrai a face acesa,

Após tirar o ser do desalento,

Um coração partido, na incerteza,

Que adentra a esperançosa natureza

Num lapso de certeza e encantamento.

A banda passa... e, junto, a multidão

Canta, envolvida em álacre emoção,

No carnaval efêmero do povo,

Com muito entusiasmo na canção

Para expulsar a velha maldição,

Até findar... e começar de novo!

Ricardo Camacho

*A BANDA*

Paramentada, a banda, se apresenta

distribuindo cores: quente e fria,

cingindo "toda a massa" na euforia,

da tenra idade aos "jovens de sessenta"...

Em cada face triste, a banda, tenta

levar o riso, em doses de alegria,

(no rosto-camponês, na burguesia),

aliviando as dores, a tormenta...

A festa, enfim, consagra o vilarejo

ao crédito do Santo, no festejo,

do padroeiro São Sebastião.

E o povo, agradecido, pede em prece,

no próximo ano, a banda, na quermesse,

cantando o amor, de novo, em seu refrão.

Aila Brito

*BANDAS E FANFARRAS*

Extasiado! Fico ao ver passar

Soprando, com vigor, os instrumentos...

Nas caixas repicando sons portentos,

Os jovens componentes da BAMAR.

A coreografia, ao desfilar,

Encanta por diversos movimentos,

E a melodia invade os sentimentos

Levando o povo à banda apreciar.

A multidão acorre para as praças,

Sem distinção de credos e de raças,

Acompanhando a banda aonde for...

Desoprimindo o peito a banda segue

Dando vazão àquele que consegue,

Ao ver a banda, suprimir a dor.

José Rodrigues Filho

*A BANDA*

Enquanto a turba ferve na folia

Como se fosse o fim da raça humana;

Alguns preferem paz, e, na semana

Do carnaval, procuram a energia

Que liga o nosso mundo ao de Maria;

A Santa Mãe da força Soberana,

E a projeção da luz que ali emana

Devolve novamente a calmaria.

Porém a massa grita, bebe e pula,

Nos vícios, mais mundanos, capitula

Às doses viciantes que a desanda.

Vivemos no reinado dos confetes,

Envoltos por rei momos e tietes

No embalo musical que dita a banda.

Douglas Alfonso

*DIA "D"*

Ao som da filarmônica, animada,

a tarde se vestia em sons e cores;

ouvia-se o oboé, clarim, tambores...

e aplausos, vindo lá da arquibancada.

Ouvia-se também: a criançada

cantando algum refrão, jogando flores

em saudação aos nobres jogadores,

e o riso da "galera", deslumbrada.

Ao som da banda, a noite se estendia,

e a quadra lá do clube mal cabia

os corações, num tum tum tum... geral

para felicitar o campeão,

o ilustre rubro-negro, o (meu) Mengão,

no dia "D" pra lá de especial!

Aila Brito

*CONVERGÊNCIAS*

Eu sempre quis tocar um instrumento

E nunca tive tal felicidade.

Tocar requer afinco, habilidade,

Mas tudo que eu possuo é o sentimento.

"Sentir" jamais será um bom talento,

Pois deve ser comum da humanidade.

Porém, eu sei sentir a raridade

De todo o ser, e dela me alimento.

Tocando a minha humilde poesia,

Encanto de maneira diferente,

Mas só enquanto a verve não esfria.

De fato, a diferença é quase ausente:

O verso causa a mesma simpatia

Que a banda, quando passa pela gente.

Guilherme de Freitas

*A BANDA*

A banda vai passando na cidade,

trazendo amor e paz na melodia.

A gente logo se enche de euforia,

do novo ao velho e até de tenra idade.

A banda, ao derramar felicidade,

repõe sorriso em quem não mais sorria,

faz germinar, no tímido, a ousadia

e uma alegria doce nos invade.

Mas, mesmo com respaldo popular,

feito onda forte, a banda logo passa

e, aos poucos, tudo volta ao seu lugar.

O encanto vai-se embora na fumaça,

e, até que a banda possa retornar,

a velha dor, de novo, nos abraça!

Luciano Dídimo

*AFAGOS*

Às vezes, contra o peso da rotina,

um lenitivo temos ao dispor

e dele conseguimos o favor

de ver que a plenitude nos domina.

Levados pela fuga repentina,

deixamos esse abraço acolhedor

encher a dura estrada de esplendor

enquanto a lide espera na surdina.

A vida pede instantes de sossego

e, quanto aos arsenais, o desapego

renova o peito para o enfrentamento.

Se toda trajetória que cumprimos

tiver, além das dores, tantos mimos,

notamos menos cada ferimento.

Jerson Brito

FÓRUM DO SONETO
Enviado por FÓRUM DO SONETO em 19/02/2024
Código do texto: T8002151
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