*TRILHA ABSC 6 - DIÁLOGO COM OS PATRONOS*

*VERSOS DOS ANJOS*

Diálogo com o soneto "Vandalismo", de Augusto dos Anjos.

Arde, o poeta, em confissões extensas,

Augustianas expressões, pacatas...

E dolorosas sensações inatas

Pelo atavismo de catarses densas.

Um coração na solidão das matas

Brada, sentido, por batidas tensas,

Perdido em meio às catedrais imensas

No labirinto de passadas datas.

Chora, o poeta, nos plangentes cais,

Sob as estrelas - noturnais cristais -

Em depressão de um secular tristonho

Que, contemplando da prisão carnal

A própria vida em maldição fatal,

Viu falecer o derradeiro sonho!

Ricardo Camacho

*A UM POETA*

Diálogo com o soneto "A Um Poeta", de Olavo Bilac.

Poeta perspicaz, que a perfeição cultua...

Começa seu soneto e pensa na estrutura,

Escolhe a melhor forma, atenta-se à cesura

E muda uma palavra, e lima, e sofre, e sua!

Depois vai à janela, avista a linda lua

E com simplicidade um verso a mais costura...

Consegue, enfim, trazer a sua essência pura

E faz com que, do peito, o sentimento flua.

Prossegue em seu trabalho, adentra nos tercetos...

Com técnica esmerada e máximo refino,

Demonstra seu valor de grande mestre – Um craque!

Artista sem igual na escrita de sonetos,

Que traz até no nome um verso alexandrino:

Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac.

Gilliard Santos

*LÁBIOS*

Produzido a partir da leitura do soneto Boca, de Cruz e Sousa, do livro Faróis.

Lábios sedosos de gentil calor,

com o viço da plena juventude

trazem pureza de anjo, por virtude,

na languidez febril do seu rubor.

Lábios sedentos, virginal sabor,

aos seus encantos resistir não pude!

Acostumado ao caminhar mais rude,

enredei-me, sem volta, em seu frescor.

Lábios, que imaginei um mar sereno,

mas se eriçaram, pélago bravio,

quando os beijei, com tal sofreguidão!

Lábios de mel, mas que, em sutil veneno,

pulsando, em suave e lépido arrepio,

explodiram em chamas de um vulcão.

Fernando Antônio Belino

*O AMOR É VIDA*

Diálogo/interação com o soneto Sublime Angústia, de Luiz Otávio.

O amor, que floresceu em pleno outono,

trouxe consigo as marcas más da sorte…

Noites em claro – ausente o próprio sono –

e tanta angústia o faz, talvez, mais forte!

Seu doce anseio entregue ao abandono,

sem ter, sequer, saída que o conforte…

Sonho frustrado rente ao desabono

e, em meio aos vendavais, rondando a morte.

“Prêmio e castigo…” A saga do poeta

que vê cair por terra a sua meta,

nessa jornada curta e constrangida.

Transpondo o seu sofrer à dor sublime,

resplende à luz um fato que o redime:

– mesmo na morte, o amor ainda é Vida!…

Lucília A. T. Decarli

*DE REPENTE*

Baseado num verso do "Soneto da Separação", de Vinicius de Moraes.

"De repente... não mais que de repente"

nos apresenta a vida um novo amor,

um novo empreendimento ou nova dor.

O destino é uma força surpreendente!

O saudável se torna decadente.

Quem é feliz se torna sofredor.

A vivência é um painel multicolor

que vai mudando tudo à nossa frente.

De de repente em de repente, a vida

altera nossos dias em seguida

com jeito de quem faz uma trapaça.

Tudo pode mudar em um segundo

e a gente, ante as mudanças deste mundo,

mal vê que, de repente... a vida passa.

Arlindo Tadeu Hagen

*NO JARDIM…*

Dialogando com o poema “A Florista”, de Francisca Júlia.

Ao ver bailar as flores do jardim,

a moça rodopia em piruetas…

e ouvindo imaginário bandolim,

faz par com um buquê de violetas.

O sopro de um anjinho querubim

dá vida à brisa (as hastes são baquetas),

e a jovem que tem pele de cetim

valseia tal e qual as borboletas.

A moça, após o baile inusitado,

na maciez da relva anula o enfado…

O sol do entardecer lhe doura a face

que alude à terna e cândida corola.

O anu lhe faz a corte e cantarola,

e o beija-flor a beija, em doce enlace!

Elvira Drummond

*CAÇADOR*

Diálogo com o soneto "O Puma e o Condor", de Marco Aurélio Vieira.

O instinto predador que me assedia

invade sendas cheias de doçura

e a fome incontrolável me tortura,

devasta toda aquela calmaria.

O sangue, carregado de euforia,

a fúria animalesca não segura,

incita garras, sorve na fervura

qualquer pudor que ainda resistia.

Descontrolada e bruta, minha fera

do imenso paraíso se apodera

enquanto se debate, inerme, a caça.

Ao fim de tudo, um pássaro devora

o desatino aceso e, noite afora,

voamos juntos neste céu que enlaça...

Jerson Brito

"REMISSÃO"

Diálogo com o soneto "MAL SECRETO" do poeta Raimundo Correia.

"Se a cólera que espuma, a dor que mora

No peito de garota, adormecida,

Enfim viesse a ser desconstruída

Pela paixão, sem par, vivida outrora.

Esquecerias o ódio que rebora

Ao teu redor purgando a tua vida...

Lembrando o quanto me entreguei querida!

Pois meu amor perdura até agora.

Sei que a vingança não te vai curar!

Careces reviver o dom de amar...

Lembrar! O quanto foste dadivosa.

Se a tua mágoa não ceder, jamais!

Decerto penarás, ainda mais,

"Em parecer aos outros venturosa".

José Rodrigues Filho