Morto-vivo

Peço-te, não me deixes tão fundo,

três palmos bastam para o meu repouso.

Não quero, no meu leito eterno e imundo,

com larvas dividir o mesmo lar penoso.

Pois, mesmo na morte, quero sentir

o calor do sol, o orvalho da manhã,

ainda que a chuva me faça surgir

despido, cadavérico, podre como maçã.

Estarei eu contente jazendo

no mundo dos que são vivos.

Não sofreria eu, assim sendo.

Então, deixe-me no altivo!

Não quero fim tão horrendo,

serei, ao menos, um morto-vivo.

Alexandre Toledo
Enviado por Alexandre Toledo em 18/02/2024
Código do texto: T8001665
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