O masoquista
(A Stephanie Martins)
“My letters! All dead paper – mute and white!”
(ELIZABETH BARRETT BROWNING)
“Ilusão…! Que a minha alma, coitada,
De ilusões hoje em dia é que vive;
É chorando uma glória passada,
É carpindo uns amores que eu tive!”
(CASIMIRO DE ABREU)
Abro outra vez a caixa onde hei guardado
Minhas cartas – folhas amarelecidas
Mil vezes mil vezes lidas e relidas,
Que no peito as trago de cor e salteado –
Daquele tempo em que amava e era amado,
E em prece única se uniam nossas vidas;
Mil vezes mil folhas amarelecidas
Folheio, qual outras mil fiz no passado,
Procurando reviver (mas sempre em vão)
A imagem daquela que entre nós já não vive,
Torturando, masoquista, o coração
Com distantes lembranças de glórias que tive,
Revolvendo entre ruínas de ilusão
A imagem daquela que entre nós já não vive!